“O bem tem que aparecer.” Esse é o mantra de Ralph Cyrillo Dias, professor de Artes do Município do Rio desde 2012. Natural de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mora atualmente na Pavuna e leciona na E.M. Mário Penna da Rocha (5ª CRE), em Honório Gurgel. “O que procuro passar para meus alunos é que, embora trabalhar para o tráfico seja mais rentável financeiramente, não vale a pena, moralmente, como realização pessoal. A pessoa pode aparecer de outras formas, estudando, se esforçando.”
Ralph sempre acreditou no estudo como realização pessoal. Escultor autodidata, trabalhava de dia em uma loja de jogos eletrônicos, em São Cristóvão, enquanto as noites eram dedicadas a um curso pré-vestibular em Madureira. Passou para a Faculdade de Belas Artes da UFRJ, onde se graduou em 1999 e também lecionou como professor substituto, de 2000 a 2004. Depois, fez pós-graduação lato sensu em Docência para o Ensino Fundamental e Médio, na Faculdade Cândido Mendes.
Em 2009, passou no concurso para professor do Município do Rio de Janeiro, cargo para o qual foi convocado em fevereiro de 2012, sendo designado para a E.M. Figueiredo Pimentel (5ª CRE), em Turiaçu. “Quando recebi o telegrama, fiquei eufórico – é um reconhecimento e uma estabilidade –, mas, depois, caí na real. É preciso se adequar à realidade: o público que atendemos e a estrutura que temos apresentam muitas dificuldades. Eu trabalho a partir disso.”
Ralph propôs à 5ª Coordenadoria Regional de Educação, à qual está ligado, o projeto Papo Reto, no qual os professores dedicam um tempo por semana para conversar com as turmas sobre os temas que as estão mobilizando ou afligindo. É uma maneira de diminuir a agressividade que transborda, culminando com alunos fora de sala de aula por indisciplina ou sendo levados à Direção.
Em relação à disciplina de Artes, Ralph conta que parte do bê-á-bá. Ao constatar que muitos não sabiam medir com réguas, resolveu começar, nas turmas do 6º ano, a usar instrumentos técnicos, como transferidor, compasso, etc. Depois, partiu para o desenho, ensinando 3D, luz e sombra, grafite, ângulos, formas geométricas. “Arte é matemática. Além disso, é extremamente interdisciplinar. Também ensino Geografia, História e Língua Portuguesa durante minhas aulas.”
É o caso das maquetes com as turmas do 8º e 9º anos. Começam pesquisando na internet sobre um determinado tema, que pode ser tanto recursos hídricos do estado do Rio de Janeiro como fauna ou flora. De posse das informações e depois de perceber que a web vai além das redes sociais, os alunos aprendem a formatar uma pesquisa, com capa, espiral e folha de rosto.
O último passo do trabalho é formar grupos para desenvolver maquetes das regiões apresentadas. A atual é uma representação da Pedra do Cão Sentado, em Friburgo, na região serrana do Rio. “Na produção das maquetes, nós ainda trabalhamos, além da escultura, o conceito de reciclagem, com a utilização de diversos materiais para formar a base da estrutura, como papelão, caixa de leite e jornais.”
Ralph é realmente apaixonado pela natureza. Nas horas de lazer, gosta de estar nas praias ou nas florestas do Rio. “Nós, cariocas, somos afortunados. Temos perto da gente diversas possibilidades gratuitas para recarregar as energias.”