A história de Ana Rosa de Andrade Corrêa Dourado, 48 anos, com a Escola Municipal O’higgins, em Bangu (8ª CRE), envolve afeto e uma vida inteira. Nascida e criada em uma rua vizinha à unidade escolar, foi lá que cursou do 1º ao 4º ano do antigo primário. Já nessa época sonhava ser professora e chegou a dizer à diretora que um dia ocuparia sua função.
No entanto, não pôde fazer o curso Normal porque era distante de casa e a mãe temia por sua segurança. Na época, sofria com problemas de saúde. Fez o curso técnico em contabilidade.
Casou-se e morou em Campinas, onde teve filhas gêmeas. Quando as meninas deixaram as fraldas, quis trabalhar fora de casa. Havia uma escola próxima e ela se ofereceu para atuar onde houvesse necessidade. Para sua surpresa, soube que poderia exercer a função de professora substituta em turmas do Ensino Fundamental. Ficou encantada com a oportunidade e chegou a lecionar, desse modo, em três escolas da região.
De volta ao Rio de Janeiro, Ana Rosa teve mais uma filha. Quando a menina completou 3 anos e as gêmeas já eram adolescentes, ela começou a fazer concursos públicos. O primeiro para o qual foi chamada, em 2006, foi de merendeira na Rede Municipal de Ensino, sendo designada para a E.M. Ernesto Franciscone, em Senador Camará (8ª CRE). Ana Rosa conta que atendia as crianças com carinho e respeito, mas queria outras oportunidades.
Concurso público e Enem
Foi quando resolveu resgatar de vez o sonho de ser professora e ingressou em um curso com matérias referentes ao magistério. Em 2008, obteve duas vitórias: passou no concurso para professor com carga horária de 22,5h e também no Enem.
Dois anos depois, foi chamada para dar aulas na E.M. Ernesto Franciscone, a unidade onde era merendeira. “Os funcionários me receberam com aplausos no meu primeiro dia como professora. Fiquei muito emocionada”, lembra ela, que começou a lecionar para uma turma do 3º ano. O Enem lhe garantiu uma bolsa integral para a faculdade de Pedagogia, na Universidade Castelo Branco.
Em 2011, foi transferida para a E.M. O’higgins, onde havia estudado na infância. Deu aulas para o 1º e 4º anos. Em seguida, passou em um concurso para 40h no Município. Nessa época, ainda era possível acumular as duas matrículas e assim foi feito. Começou a dar aulas também à noite para o Programa de Educação de Jovens e Adultos – Peja, no Ciep Professora Célia Martins Menna Barreto, em Bangu (8ª CRE). “Amo dar aulas para o Peja. São idosos que não puderam estudar, cheios de vontade de aprender; mulheres que, por uma questão de gênero, não tiveram acesso; o pessoal da zona rural e os mais jovens, que não tiveram seu déficit de atenção identificado”. Ana Rosa diz que gostaria que os alunos do Peja tivessem os mesmos direitos que os do ensino regular, como aplicação de flúor e óculos. Em 2012, a professora fez uma pós-graduação on-line em Gestão Escolar e Práticas Pedagógicas.
Por causa da nova matrícula de 40h, ela foi transferida para o Ciep onde já trabalhava à noite. Mas sentia falta da E.M. O’higgins e, assim que possível, voltou para lá. Em 2016, foi promovida para o cargo de coordenadora pedagógica, por ser uma profissional que consegue interagir bem com todos os segmentos da comunidade escolar.
Diretora de escola
Houve, então, a vacância da função de diretora em sua escola do coração – a O’higgins. Candidatou-se ao cargo e, para sua felicidade, tornou-se diretora em 16 de janeiro de 2017. “Foi um desafio assumir o cargo com dez turmas e somente duas professoras. Eu e a diretora-adjunta demos aula temporariamente”. Hoje, a situação está melhor com oito professores, mas ainda faltam profissionais para o 1º e o 3º anos, e também para a sala de leitura. “Outra questão que pretendo reivindicar é o acesso à internet. Temos computadores novos, mas a web é fundamental atualmente”.
Ana Rosa é casada há 30 anos. Uma das gêmeas está terminando Pedagogia e a outra é bióloga. A caçula está com 12 anos. Os finais de semana são o tempo livre de Ana Rosa e ela gosta de reunir a família durante o almoço e em programas como cinema e praia.