“Quero formar cidadãos críticos. Contribuir para que os alunos possam expressar suas ideias, não apenas memorizar conteúdos.” Esse é o norte que move Alexandra Paixão, professora do Espaço de Desenvolvimento Infantil Tenente Pedro de Lima Mendes (11ª CRE), na Ilha do Governador.
Alexandra ensinava do modo tradicional – pedindo que as crianças cobrissem letras pontilhadas ou as copiassem, comemorando datas como Dia do Índio ou Zumbi dos Palmares, iniciando o alfabeto pela letra A – quando conheceu textos sobre o sociointeracionismo, cujo autor principal é Lev Vygotsky, que preconiza ser a interação entre indivíduos, em dado contexto sociocultural, o foco principal da aprendizagem. A partir daí, mudou sua prática em sala de aula.
Passou a escutar com mais atenção o que os alunos traziam como bagagem de vida e usar esse contexto como ponto de partida para apresentar o conteúdo previsto. Alexandra diz que o processo ensino-aprendizagem é um “caminhar juntos” movido a diálogo.
Atualmente, ela é responsável por duas turmas da Educação Infantil II, com crianças entre 5 e 6 anos. Para essa faixa, a professora considera o aspecto lúdico essencial ao desenvolvimento das linguagens oral, corporal, de ciências e raciocínio lógico.
Quem disse que estou só brincando?
Ela usa estratégias como o bingo alfabético, no qual os alunos possuem tabelas com sílabas e a professora sorteia uma palavra. As crianças precisam identificar se têm alguma sílaba da palavra escolhida e marcá-la com uma tampinha, até que alguém consiga fechar todas as sílabas que possui. A linguagem corporal é trabalhada em jogos como o vôlei de peteca, tênis de mesa ou tracejando o chão e propondo movimentos.
O EDI Tenente Pedro de Lima Mendes, mais conhecido nas redondezas como “tijolinho”, por causa de suas paredes de tijolos vermelhos, é privilegiado por ter um espaço generoso, incluindo um quintal com árvores frutíferas. Motivo para dias dedicados a explorá-las.
Aproveitando os Jogos Olímpicos, Alexandra falou sobre os atletas e sua necessidade de manter uma alimentação saudável, incluindo frutas. E lá foi a turma de 25 crianças saborear e conhecer melhor manga, carambola, coco e abacate. A professora pediu para cada aluno fazer um desenho da árvore e, assim, promoveu a atenção e a concentração, entre outros aspectos. Depois, ela escreveu “carambola” e marcou a letra inicial “c”. Ainda pediu que todos repetissem “ca-ram-bo-la” e perguntou: “Quantas vezes abrimos a boca para falar carambola? Quantos ‘pedaços’ tem a palavra carambola?”. E, dessa forma, introduziu a noção de sílaba. O quintal é realmente promotor de muito conhecimento, possibilitando mote para pesquisas posteriores, feitas pelos alunos.
O raciocínio lógico foi estimulado com o auxílio de histórias, como a da baleia que foi a uma festa do pijama. Após ouvir o enredo e conhecer os amigos do mamífero, os estudantes precisaram representar graficamente, por meio de pontinhos, quantos eram os animais envolvidos na brincadeira. E as perguntas seguiram referenciadas pelo conto.
Educação Infantil
Alexandra já deu aula para o 4º e o 5º anos do Ensino Fundamental, mas conta que gosta de lecionar para a pré-escola porque acredita fazer mais diferença na boa formação do indivíduo sendo uma presença positiva nos primeiros anos de vida. Nesse sentido, acha fundamental a relação com os responsáveis dos estudantes e procura conversar com eles para identificar possíveis problemas que afetem o aluno. Se uma criança está agressiva, por exemplo, pode ser reflexo de uma separação dos pais. Se ela souber a causa, pode dar uma atenção diferenciada para o estudante.
Alexandra Cristina Barros Allen de Araújo Paixão passou no concurso para o Município do Rio em 2011. Além do EDI atual, já trabalhou na Creche Municipal Cora Coralina e no EDI Neuza Maria Goulart Brizola (ambos da 11ª CRE, na Ilha do Governador, onde mora). Em 2017, forma-se em Pedagogia. Considera fundamentais as capacitações oferecidas pela Secretaria de Educação, como o último seminário do qual participou no MAR: Educação para as relações étnico-raciais na primeira infância. Em 2015, foi aprovada no concurso para professores com carga horária de 40 horas e aguarda ser chamada para migrar de matrícula.
Aos 19 anos, Alexandra foi mãe de uma menina que, para seu orgulho, acaba de se formar em Publicidade e está terminando Jornalismo. A professora é casada pela segunda vez e gosta de fazer pequenas viagens com o marido para fora do Rio de Janeiro.