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Trabalho, serviços e lazer convivem em Botafogo
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Publicado por Beatriz Calado* em 25/07/2016
Enseada de Botafogo, uma dos cartões-postais mais bonitos da Zona Sul (Crédito: Wikimedia Commons)

Um dos cartões-postais mais belos da cidade do Rio de Janeiro é a Enseada de Botafogo, na Zona Sul. Do ponto turístico, é possível avistar a entrada da Baía de Guanabara e os contornos dos morros do Pão de Açúcar e da Urca. Na parte detrás da enseada, se concentram lojas, bancos, sedes de empresas multinacionais e nacionais, salas de cinema, hospitais e colégios, que constituem um importante centro comercial na orla da praia. Essa configuração atual em nada se parece com o vasto terreno isolado que existia em toda aquela região até o século XIX, quando o bairro começou, efetivamente, a ser habitado.

A primeira pessoa a ocupar o local foi Antônio Francisco Velho, que recebeu as terras como recompensa por ajudar o amigo Estácio de Sá na fundação da cidade, em 1565. Quase três décadas depois, o terreno foi vendido para o português João Pereira de Sousa, mais conhecido como Botafogo. Segundo alguns relatos, é por causa de João que o bairro e a praia são chamados assim.

A região pertencia à freguesia rural de São Sebastião da Lagoa. Parte da terra foi comprada por Dom Clemente José de Matos, o Vigário Geral, que abriu caminhos no terreno, chegando ao local onde hoje estão situados o bairro do Catete e o Forte de São João, na Urca.

Até o século XVIII, a região não passava de uma área isolada, com pouca expressão na vida social e econômica da cidade. Em 1702, houve um desmembramento da Freguesia de São João Batista da Lagoa, que gerou três chácaras: a de Olaria, que abrange quase toda a extensão do atual bairro, a do Outeiro e a do Vigário Geral.

Casarões imperiais e o surgimento do bairro

Botafogo só começou a ganhar contornos de bairro no início do século XIX, quando D. Carlota Joaquina, esposa do imperador D. João VI, construiu um casarão na praia, na esquina da atual Rua Marquês de Abrantes.

Os comerciantes ricos, os nobres portugueses e os diplomatas da corte também passaram a construir casarões por ali. Com um clima agradável e rodeado de belezas naturais, Botafogo se tornou uma boa opção para morar ou passar o verão.

Naquela época, havia poucos caminhos para circular pelo bairro. Existia o do Berquó, que dava nome a um rio e fica onde hoje é a Rua General Polidoro; o do São Clemente, com direção à Lagoa; o de Copacabana, atual Rua da Passagem; e o da Praia de Botafogo. Nos anos seguintes, outras vias foram abertas, como a Voluntários da Pátria e a Real Grandeza, facilitando a expansão para o interior do terreno, que, a cada dia, ganhava novos moradores, após a repartição das antigas chácaras em lotes.

Infraestrutura impulsionou o povoamento

Em meados do século XIX, alguns serviços básicos passaram a facilitar a vida da população que morava ali. Em 1843, entrou em circulação o serviço de barcos a vapor, que ligava Botafogo ao Saco do Alferes – atual Santo Cristo. Quase uma década depois, em 1854, novas instalações no bairro garantiram o abastecimento de água nas residências e, em 1860, as casas passaram a ter iluminação a gás.

Em 1854, o fotógrafo Joachim Lebreton registrou o crescimento demográfico do bairro. Naquela época, grandes casarões dividiam o espaço com a vegetação nativa (Crédito: Biblioteca Nacional Digital)

O aumento demográfico ganhou novo impulso com o surgimento dos bondes de tração animal, transporte coletivo que permitia o passeio de mais pessoas em uma só viagem. O novo veículo ajudou a trazer para a região camadas mais humildes da população.

No início do século XX, Botafogo apresentava um perfil bem heterogêneo de moradores, que incluía operários, biscateiros, funcionários públicos, comerciantes, militares e artesãos. Ao lado dos grandes casarões e de algumas vilas, surgiram os cortiços – habitações coletivas que foram imortalizadas na obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo (1890).

Em sintonia com a vinda de novos moradores e a expansão dos serviços básicos, a área comercial se desenvolveu, sobretudo, nos locais em que os bondes passavam. Nessa época, os caminhos percorridos seguiam as atuais ruas São Clemente, Voluntários da Pátria, Mena Barreto, Real Grandeza e da Passagem e a Praia de Botafogo. Duas das instituições de ensino mais tradicionais do Rio de Janeiro, os colégios Santo Inácio (1903) e Andrews (1918), foram construídas.

Bairro de passagem e consolidação como centro comercial

Devido à abertura dos túneis Velho e Novo, no início dos anos 1900, dando acesso a Copacabana – região ainda pouco habitada –, Botafogo passou a ser considerado um bairro de passagem para outras áreas da cidade. Era por ali que os moradores precisavam atravessar caso desejassem fazer o trajeto entre o Centro e os novos locais que estavam surgindo na Zona Sul.

Com o crescimento de Copacabana, o bairro sofreu grandes perdas no setor imobiliário, pois os empresários e moradores optavam por construir suas residências na orla marítima. Em decorrência, tornou-se mais econômico comprar ou alugar terrenos e imóveis em Botafogo. Essa conjuntura foi fundamental para intensificar o estilo comercial que o bairro já apresentava, uma vez que os moradores das regiões vizinhas tinham de ir até lá para comprar mantimentos ou se consultar com médicos e dentistas.

Assim, algumas edificações residenciais foram se transformando, ao longo do tempo, em salas de escritório, cinemas, consulados e outros tipos de estabelecimento.

A Favela Santa Marta

As primeiras favelas do bairro datam do início da década de 1920, com a ocupação dos morros do Pasmado, da Saúde e do São João. A mais conhecida e que existe até hoje é a Santa Marta, que surgiu junto com as obras de expansão do Colégio Santo Inácio.

Na época das obras, o padre Natuzzi, então diretor do colégio, permitiu que os operários se instalassem no Morro Dona Marta, que fazia parte do terreno da instituição. Com a oferta de emprego, muitos passaram a morar por ali, justamente por estar perto do trabalho e dos principais serviços que o local oferecia.

Ao longo dos anos, o Morro Dona Marta ganhou novos habitantes, vindos de outras comunidades. Isso aconteceu devido às políticas de remoção e expulsão feitas pelo então governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, na década de 1960.

A favela ficou mundialmente conhecida quando o cantor Michael Jackson a visitou, em 1996, para a gravação do seu clipe They Don’t Care About Us. Em 2010, uma estátua foi inaugurada na laje onde o astro gravou a canção.

A Fundação Casa de Rui Barbosa, situada na Rua São Clemente, é um dos estabelecimentos culturais existentes no bairro (Crédito: Flickr)

Botafogo nos dias atuais

De acordo com dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, o bairro possuía, naquela época, 82.890 moradores, sendo 36.906 homens e 45.984 mulheres. Além do vasto comércio, destaca-se atualmente um importante polo cultural na região, que abriga o Museu do Índio, o Museu Villa-Lobos, a Fundação Casa de Rui Barbosa, os teatros Poeira e Poeirinha, o Solar de Botafogo, a Cia. de Teatro Contemporâneo, além de diversas salas de cinema.

A quantidade de bares e restaurantes chama a atenção. Diversos deles estão localizados no baixo Botafogo, área que abrange as ruas Nelson Mandela e Voluntários da Pátria, nas saídas da estação de metrô. O local é um dos preferidos de quem trabalha ali por perto para se reunir depois do expediente.

Os moradores têm à sua disposição cinco escolas da Rede Municipal e três Espaços de Desenvolvimento Infantil. Também não faltam linhas de ônibus que integram o bairro a diferentes regiões da cidade, assim como o metrô.

No bairro, funcionam alguns órgãos municipais, entre os quais o Palácio da Cidade, na Rua São Clemente. E algumas das igrejas mais antigas, como a de São João Batista – que deu nome ao cemitério local – e a da Imaculada Conceição do Sagrado Coração de Jesus.


Fontes:

CAMINHA, Julia Vilela. Botafogo e a sua evolução urbana: um retrospecto.
TEIXEIRA, Luiz Guilherme Sodré. História breve do bairro de Botafogo. Texto disponível no site da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Sites: Portal GeoRio e Veja Rio.

* Beatriz Calado, estagiária, com supervisão de Regina Protasio.

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