Atualizada em: 18 Agosto 2025 | Por Lailla Micas
A poetisa e cronista Cora Coralina dá nome a uma escola na 9ª CRE, em Campo Grande, e a uma creche na 11ª CRE, no bairro Portuguesa (Ilha do Governador). Trata-se da escritora goiana que lutou pela emancipação feminina, participando ativamente da vida política do país. Em 2006, a autora recebeu, in memoriam, a Ordem do Mérito Cultural, uma condecoração do governo federal em reconhecimento por suas contribuições à cultura brasileira.
Seu nome de batismo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Ela nasceu no mesmo ano da Proclamação da República, em 1889, na cidade de Goiás, antiga capital do estado de Goiás. Cursou o primário e, aos 14 anos, publicou seus primeiros contos e poemas em jornais locais, adotando o pseudônimo Cora Coralina. Segundo ela, já havia muitas “Anas” em sua cidade. Na sua concepção, "Cora" vinha de "coração" e "Coralina" representava a cor vermelha. Desta forma Cora Coralina significaria “Coração vermelho”. Aos 18 anos, em 1907, fundou o jornal A Rosa, dirigido somente por mulheres. Em 1911, fugiu a cavalo para o interior de São Paulo com seu futuro marido Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, com quem teve seis filhos.
Sobre a saída da cidade de Goiás, Cora escreveu no livro Estórias da casa velha da ponte, publicado em 1985 (logo após sua morte): “Meus anseios extravasaram a velha casa. Arrombaram portas e janelas, e eu me fiz ao largo da vida. Andei por mundos ignotos e cavalguei o corcel branco do sonho”.
O casal viveu em Jaboticabal (SP), onde o marido atuava como advogado, e em São Paulo, capital, onde Cora administrou uma pensão entre 1933 e 1934. Após a morte de Cantídio, vítima de pneumonia, ela vendeu a pensão e passou a comercializar livros para o renomado editor José Olympio. Mais tarde, mudou-se para Andradina (SP), onde abriu uma loja de retalhos de tecidos, comprou um sítio, candidatou-se ao cargo de vereadora — sem êxito — e retomou com ainda mais dedicação suas atividades literárias. Cora morou por 45 anos no estado de São Paulo e só depois de viúva e com os filhos já criados decidiu regressar sozinha, em 1956, para a sua terra natal.
Em 1965, aos 76 anos, lançou seu primeiro livro pela editora José Olympio — a mesma de seu antigo empregador — intitulado Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. O livro traz poemas como Minha Cidade. O ofício de doceira ajudou Cora Coralina a se sustentar financeiramente nesse período.
Algumas estrofes de Minha Cidade:
Goiás, minha cidade…
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
uma das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.
(...)
Eu sou o caule
dessas trepadeiras sem classe,
nascidas na frincha das pedras:
Bravias.
Renitentes.
Indomáveis.
Cortadas.
Maltratadas.
Pisadas.
E renascendo.
Eu sou a dureza desses morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as virações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.
(...)
Drummond tornou a autora conhecida nacionalmente
Em 1979, o poeta Carlos Drummond de Andrade deu visibilidade nacional a Cora, tornando-a conhecida por um maior número de pessoas. Drummond escreveu uma crônica sobre ela no prestigiado Caderno B do Jornal do Brasil.
“Este nome não inventei, existe mesmo, é de uma mulher que vive em Goiás: Cora Coralina. (...) para mim, a pessoa mais importante de Goiás. Mais do que o governador, as excelências parlamentares, os homens ricos e influentes do Estado. Entretanto, uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção, e identificada com a vida como é, por exemplo, uma estrada. Na estrada que é Cora Coralina, passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje.”
(Drummond, 1979)
Em 1983, Cora Coralina recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás (UFG), e no mesmo ano tornou-se a primeira mulher a vencer o prêmio Juca Pato, dado pela União Brasileira de Escritores, com o livro Vintém de cobre - meias confissões de Aninha. Em 1986, publicou o livro infantil Os Meninos verdes.
Cora Coralina morreu em Goiânia, em 1985, aos 95 anos, mas deixou um baú com muitos textos inéditos, que foram publicados após sua morte. Entre eles, os infantis A Menina, O cofrinho e a vovó, A moeda de ouro que o pato engoliu, As cocadas, Contas de dividir e trinta e seis bolos. Também há outros destinados ao público adulto, como Doceira e poeta, Poema do milho, Melhores poemas, Meu livro de cordel, O prato azul-pombinho, O tesouro da casa velha e Villa boa de Goyaz.
A casa onde passou a infância e a velhice é atualmente o Museu Casa de Cora Coralina. O sobrado do século XVIII faz parte do acervo colonial da cidade de Goiás, que foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 2001.
Fontes:
BRITTO, Clovis; CURADO, Maria Eugênia. A ironia como projeto: movimentos da narrativa de Cora Coralina no campo literário. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, 2011. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/9637.
LOURENÇO, Edival. Cora Coralina: a história da poeta que publicou seu primeiro livro aos 75 anos. Revista Bula, 2021. Disponível em: https://www.revistabula.com/25994-cora-coralina-a-historia-da-poeta-que-publicou-seu-primeiro-livro-aos-75-anos/.
TV Brasil. Cora Coralina explica por que adotou seu pseudônimo. Vídeo do Youtube, 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VLt2_IwZJ98.