Irajá, bairro da Zona Norte do Rio onde nasceu Zeca Pagodinho e moraram outras personalidades da música, como Dolores Duran e Nei Lopes, teve origem na sesmaria homônima, doada a Antônio de França três anos após a fundação da cidade em 1565. A sesmaria era enorme, a maior do Rio de Janeiro – ia de Benfica a Campo Grande –, mas foi na região onde hoje fica o bairro que, em 1613, foi construído o segundo templo católico da cidade, a Capela de Nossa Senhora da Apresentação, em torno da qual surgiu um núcleo de povoamento. No século seguinte, a capela foi substituída por uma igreja de mesmo nome, que existe até hoje e que, na época, se transformou na matriz de toda a zona rural carioca.
As feições urbanas do bairro, que hoje é sede da XIV Região Administrativa, só começaram a surgir mesmo a partir da década de 1880, com a inauguração da Estrada de Ferro Rio D’Ouro, fundada para auxiliar nas obras de construção de uma adutora que captaria águas na Serra do Tinguá, na Baixada Fluminense. Nessa época, já havia sido publicada a Lei das Terras, que possibilitava a aquisição de grandes e pequenos lotes por posseiros, fragmentando as antigas fazendas coloniais e permitindo a expansão da cidade para a região suburbana. É, contudo, a trajetória histórica colonial que confere a Irajá o status de “berço dos subúrbios cariocas”, ou de “patriarca dos arredores”, como já se referiu Antônio Rodrigues, poeta, trovador e fundador da Academia Irajaense de Letras e Artes (Aila).
Segundo a geógrafa Pamela Dionísio, em seu artigo publicado na revista Boletim do Tempo, o processo de adensamento do bairro de Irajá se acentuou a partir das reformas de Pereira Passos – prefeito que, em função das grandes obras realizadas e da valorização das áreas regeneradas, acabou hierarquizando os espaços do Rio, deslocando para os subúrbios as populações de menor renda. Do fim do mandato de Passos, em 1906, até 1920, o Distrito de Irajá apresentou o maior crescimento demográfico da cidade: 263%.
Nesse período, mais precisamente em 1911, surgiu a primeira linha de bonde puxado por burro da localidade, ligando o aglomerado de Irajá a Madureira. Os dois lugares tinham uma certa função estratégica na cidade, pois eram grandes produtores/revendedores de produtos hortifrutigranjeiros, que abasteciam as populações de diversos bairros. Com o adensamento populacional na região, veio a consequente demanda por moradia e, a partir de 1924, se iniciou uma série de loteamentos organizados pela Sociedade Condomínio Irajá.
Industrialização e proletarização
Em 1926, um decreto municipal separou Realengo e Madureira do Distrito de Irajá, mas o que mais atingiu a dinâmica do bairro foi o processo, iniciado nos anos 1930, de sucessiva ocupação dos subúrbios pelas indústrias, que, até então, se concentravam na região central da cidade. Foi com o objetivo de incorporar novos terrenos ao tecido urbano, visando à ocupação industrial, que foi aberta a Avenida Brasil, durante o Estado Novo. Segundo Maurício de Almeida Abreu, em seu livro A Evolução Urbana do Rio de Janeiro, esse processo, aliado à escassez de transporte, acabou por gerar a favelização de vastos terrenos no entorno da então mais nova via expressa da cidade.
Na década de 1940, o bairro de Irajá ganhou uma sala de cinema. Nessa época, seu carnaval também tinha um razoável status, pois contava com diversos bailes e blocos de rua. Na década seguinte, a política habitacional da cidade iniciou a construção de diversos conjuntos habitacionais no subúrbio, entre eles, o Residencial Areal, mais conhecido como Amarelinho, que hoje integra o chamado “Complexo de Acari”, bairro com o qual o conjunto faz divisa. Ainda nessa década, foi inaugurada a fábrica de cimento branco Irajazinho.
Com a onda de industrialização naquela região da cidade, mais favelas começam a se sedimentar ao longo da Avenida Brasil durante toda a década de 1960, desvalorizando as terras dos bairros do entorno. Também foi nessa época que a Estrada de Ferro Rio D’Ouro foi desativada. Nos anos 1970, a nova central de abastecimento da cidade, a Ceasa, foi inaugurada em Irajá, às margens da Avenida Brasil, levando para o bairro um imenso contingente de população flutuante que, ali, passou a trabalhar e consumir.
Em 1998, a Linha 2 do Metrô, construída no leito da antiga Estrada de Ferro Rio D’Ouro, chega a Irajá, possibilitando novo impulso ao bairro. No século XXI, o bairro já ganhou dois novos clubes – o Del Rey e o Irajax Futebol Clube –, além de um shopping center – localizado na altura do Trevo das Margaridas, onde começa a Via Dutra – que conta com seis salas de cinema e atrai os moradores de diversos bairros de toda a região.