Ao contrário do que é reproduzido pela cultura popular, o nome Realengo não é uma abreviatura de Real Engenho. Na verdade, segundo informações do Instituto Pereira Passos, a alcunha tem origem no termo “Campos Realengos”, usado para indicar áreas destinadas à serventia pública e à pastagem do gado de pecuaristas que não possuíam terras próprias.
Hoje, Realengo compõe e nomeia a XXXIII Região Administrativa do Rio de Janeiro, juntamente com Campo dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos e Vila Militar, na Zona Oeste. É o quarto bairro mais populoso do município, segundo o Censo 2010, com 180,1 mil habitantes.
História e crescimento
Os primeiros habitantes da área se dedicaram à agricultura, transportando produtos como açúcar, rapadura, álcool e aguardente pelo Porto de Guaratiba. A Fazenda Piraquara era uma das mais produtivas da região. Localizada no pé da Floresta do Piraquara, ficou conhecida como “Fazenda dos Baratas” após ter sido adquirida pelos irmãos Manoel e João Fernandes Barata.
A Estrada Real de Santa Cruz, atuais Avenidas Marechal Fontenelle e Santa Cruz, era a principal via da região. Em 1720, em uma de suas margens, já existia a capela de Nossa Senhora da Conceição – hoje um dos pontos mais notórios do bairro –, com um cemitério nos fundos. O monsenhor Miguel de Santa Maria Mochon, que nomeia o vizinho Padre Miguel, refez e ampliou a igreja, inaugurando, em 1910, a paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Realengo. Segundo a tradição oral da região, a comitiva de Dom Pedro I sempre parava na fonte de pedra da capela para saciar a sede dos cavalos, quando seguia caminho para a Real Fazenda de Santa Cruz.
Com a inauguração da estação de Realengo, em 1878, o local começou a crescer ainda mais. Terras desmembradas da antiga Fazenda Piraquara davam lugar a arruamentos e loteamentos como o Barata, Vila Itambi, Piraquara, Jardim Novo Realengo, Jardim Água Branca e Batan. A fundação da Fábrica de Tecidos Bangu, em 6 de fevereiro de 1889, movimentou bastante as regiões vizinhas, com a construção de vários conjuntos residenciais destinados aos funcionários da instituição.
Área militar
A partir de 1850, durante o reinado de Dom Pedro II, Realengo se tornou uma área de importância estratégica para a cidade, com a criação do Campo de Marte, da Escola de Tiro e da Imperial Academia Militar. Após a Proclamação da República, uma série de instalações foram criadas, como o 1º Batalhão de Engenheiros (1897), a fábrica de cartuchos e artifícios de guerra (1898) e a Escola de Guerra (1911), renomeada como Escola Militar de Realengo e permanecendo atuante até sua transferência, em 1943, para Resende, onde se tornou a Academia Militar das Agulhas Negras.
O prédio da antiga fábrica de cartuchos é sede, desde 2004, da primeira unidade da Zona Oeste do tradicional Colégio Pedro II. A Universidade Castelo Branco, de 1973, a Faculdade São José, de 1980, e o Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), inaugurado na Rua Professor Carlos Wenceslau, em 2009, são outras instituições de ensino importantes da região.
O Campo de Marte, conhecido popularmente como Praça do Canhão, se mantém como marco importante do local, já tendo sido utilizado como espaço de shows e eventos culturais gratuitos para os moradores.
Outro destaque é a Lona Cultural Gilberto Gil, nomeada em homenagem ao compositor que, por ter passado um tempo detido nas prisões militares de Realengo na época da Ditadura Militar, cita o bairro no verso “Alô, alô Realengo, aquele abraço” do sucesso Aquele Abraço, de 1969.
Fontes: Portais GeoRio (Instituto Pereira Passos), Museu de Bangu e Colégio Pedro II.
GERSON, Brasil. História das ruas do Rio, Rio de Janeiro: Lacerda Editora, 2000.
MANSUR, André Luis. O Velho Oeste Carioca: História da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro (de Deodoro a Sepetiba) do século XVI ao XIX, Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2009, p. 38-43.