Apesar de ser oficialmente bairro há apenas 32 anos, o Estácio sempre teve uma grande importância cultural, desde o século passado. Compositores como Noel Rosa, Mano Edgar e Bide, entre outros, eternizaram versos para contar um pouco a história do lugar que ficou conhecido como o berço da primeira escola de samba, a Deixa Falar. Ela foi fundada em 1928 pelo compositor Ismael Silva – a quem Vinicius de Moraes carinhosamente se referia como “São Ismael”.
Com prestígio no cenário musical carioca, o bairro tornou-se uma usina criativa. Tudo o que era produzido no Estácio ecoava pelas redondezas. Foi assim que o som do lugar chegou até a vizinha Cidade Nova, invadindo o terreiro de Tia Ciata, na Praça Onze.
O samba que nascia no Largo do Estácio atraiu os principais representantes da cultura negra da cidade, como os jovens Heitor dos Prazeres e Bucy Moreira. Heitor, na década de 1920, ficou conhecido como Mano Heitor, por andar em companhia de bambas do Estácio, como Ismael Silva, Paulo da Portela, Bide e outros. Esta nova música popular brasileira levou-os ao encontro de outras comunidades, também negras, que sintetizavam a alma brasileira.
E não somente os membros da comunidade negra. Artistas e intelectuais que frequentavam a casa de Tia Ciata, como Noel Rosa e Almirante, que faziam parte do Bando de Tangarás, também foram seduzidos pela magia sonora nascida no bairro, passando a fazer parte dos saraus do Largo do Estácio.
Literatura
Nem só de samba vivia o lugar. O fervor religioso também se aliava às manifestações culturais do Estácio. Em frente à Igreja do Divino Espírito Santo, era organizada antigamente a festa do Imperador do Divino, um dos encontros mais conhecidos e populares do Rio de tempos passados. Essa celebração vem desde o período colonial, sendo ainda descrita pelo artista plástico francês Jean-Baptite Debret em seu livro de memórias, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Outro que se dedicou a desenvolver o mesmo tema foi o escritor Manuel Antônio de Almeida, em seu romance Memórias de um Sargento de Milícias. Segundo o autor, pessoas compareciam ao evento levando refeições e esteiras carregadas por escravos, para fazer um piquenique, que ele chamava de "estranho e monumental" e que “encantava e enchia a cabeça dos moços e moças”, que se deslumbravam com o grande acontecimento.