Como recurso lúdico que aproxima as crianças do universo da leitura e da escrita, a poesia torna a aprendizagem mais prazerosa.
No 1º semestre, os encontros que promovemos com crianças cativadas por poesia aconteceram semanalmente, com cerca de uma hora de duração cada. Os encontros reuniram um total de 25 estudantes, do 3º ao 5º ano, distribuídos em oficinas poéticas e rodas de conversa. Nas oficinas, as crianças recitavam haikais (poesias de origem japonesa com três versos e 17 sílabas) do livro Os haikais do menino maluquinho, de autoria do cartunista e escritor infantil Ziraldo. Todas as poesias declamadas foram escolhidas pelas crianças.
No 2º semestre, pedimos às crianças que escrevessem poesias autorais. Sinalizamos que a criação partisse delas. As ainda não alfabetizadas tiveram a ajuda da equipe das profissionais da escola para escrever. As de 3º ano preferiram criar seus poemas em grupos de dois ou mais participantes e as de 4º e 5º anos ou trouxeram de casa poemas já prontos ou produziram individualmente suas poesias nos encontros. Os recursos utilizados por elas foram: poesias, dinâmicas com desenhos e gravuras.
A equipe avalia que o exercício da fala de poesias em voz alta possibilitou que as crianças conseguissem associar a escrita ao som das palavras, produzindo sentidos, mesmo para as que ainda não estavam alfabetizadas.
Foi possível perceber que, ao criar as próprias poesias, as crianças passavam a se sentir mais reconhecidas e havia uma mudança positiva em sua autoestima. A expressão de alegria das que não eram alfabetizadas e que viam seus pensamentos representados em palavras e transformados em poesias era evidente.
Segundo a professora Juliana Nunes, profissional de apoio ao nosso trabalho, este projeto com poesia promoveu situações de liberdade para que as crianças pudessem criar e se apropriar da palavra, em uma relação afetiva e dialógica, habilitando-as a cumprir a função social proposta pela linguagem: a habilidade de dizer. Juliana considera que a atuação da equipe do Programa Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (Proinape/Niap/SME-Rio) possibilitou que as crianças se constituíssem como indivíduos, em um universo letrado e poético.
ANDRADE, Simei Santos; SANTOS, Raquel Amorim dos. Ludicidade como prática de liberdade: os jogos de regras na perspectiva do método Paulo Freire. In: TEDESCO, Anderson Luiz; LACERDA, Tiago Eurico de (org.). Paulo Freire, 100 anos: o centenário de um pensamento intempestivo. Curitiba: Bagai, 2020. p. 143-154. ISBN 978-65-87204-69-7. Disponível em: https://livroaberto.ufpa.br/jspui/handle/prefix/969. Acesso em: 6 jun. 2023.
FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. Estudos avançados, São Paulo, v. 15, p. 259-268, 2001.
NUNES, Palmira Baroni. Alfabetização e poesia. Revista Educação Pública, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/ar tigos/11/10/alfabetizaccedilatildeo-e poesia Acesso em 07/11/2022
ZIRALDO. Os haikais do menino maluquinho. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2013.