PALOMA DE OLIVEIRA GARCIA GOULART
Paloma Goulart é artista visual e designer gráfica, formada pela UFRJ em ambas as graduações. Pós graduada em Design de Serviço (Service Design) pela PUC-Rio. Já atuou em diversas áreas da cultura desde a educação museal, à experimentação cênica e artística, nas linguagens do teatro e da gravura. Além disso, é professora da rede municipal de ensino desde 2012. De 2018 a 2023 foi membro do Conselho Municipal de Políticas Culturais da cidade do Rio de Janeiro, representando a sociedade civil no segmento Design e Cultura Urbana. Hoje faz parte da equipe de coordenação do Fórum de Design do Rio. Pesquisa processos de impressão, artes gráficas, e Design como identidade cultural e pessoal.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professora de Artes Visuais
Mandando a Letra é um projeto de lambe lambes que aconteceu a primeira vez no ano de 2023 e, desde então, está sendo modelado para que seja um projeto anual de ocupação do espaço escolar pelo PEJA. Nos dois anos, aprofundamos estudos sobre a autora Carolina Maria de Jesus, sua história de vida e sua produção literária, com vídeos, leitura, pesquisa e discussão sobre temas a partir das percepções dos alunos. Neste ano, o projeto dialogou com a disciplina de Geografia no eixo sócio-político, enquanto em Artes focamos nas questões culturais sobre a favela, preconceitos e a Arte como essencial. A partir do estudo e das discussões, palavras ligadas aos temas foram geradas pelos alunos e, posteriormente, a criação de frases. Essas frases, junto de outras da própria autora, foram escolhidas por eles para, assim, iniciarmos a confecção dos cartazes feitos com colagem e recorte de imagens e letras. Nesse momento, a estética da arte urbana e suas questões como a efemeridade também foram apresentados, assim como artistas, analisamos profissões e as condições sociais ligadas às ruas. Todos os cartazes foram feitos em tamanho A3.
Após concluir esta etapa, fizemos cópias em folhas coloridas para criar o painel de lambe lambes. Como nas semanas em que os lambe lambes seriam colados estava chovendo e o muro precisa estar seco para ter aderência, fizemos este ano primeiro uma "iniciação" da técnica da colagem em um painel grande de papel, dentro da sala de aula. Na etapa da colagem, o painel é colado folha a folha em um dos muros do pátio da escola, intercalando as cores para que não se repitam e espalhando na parede uma proporção de 1/3 de cola para 2/3 de água (a medida pode variar de acordo com a qualidade da cola). O trabalho pode ser acessado por todos os alunos, inclusive os de outros turnos, já que fica na área comum. Ocupando a escola, conseguimos gerar a sensação no aluno de que o espaço da escola também é dele. Outra busca é por ouvir os conhecimentos de cada um, vivências e garantir de alguma forma a permanência deles. O público do PEJA é composto por pessoas diversas, muitas que são excelentes em suas profissões e outras que tem histórias preciosas. Precisamos criar ações que esses conhecimentos também possam ficar como um legado e o projeto Mandando a Letra tem esse potencial.
Sua durabilidade total no ano anterior foi por volta de 6 a 7 meses, reforçando o conceito da efemeridade na Arte, mas também estimulando os alunos à criação de um novo painel. O projeto tem potencial de abordar outros temas e nossa busca é pela inclusão dele no calendário escolar da nossa escola como um projeto anual das turmas de PEJA II, Bloco I.
Os alunos demonstraram envolvimento e interesse em cada etapa, uma vez que a temática está presente para todos, independente da idade ou classe social. Seus comentários e participações elucidaram outras situações inclusive vividas, o que gerou uma análise crítica desses momentos e uma troca de vivências com a ideia de valorizar o hoje e de estar atento para não passar pelo mesmo novamente.
Os alunos que têm maior dificuldade para escrita puderam exercitar, reconhecendo letras e criando seus próprios textos com a ajuda de outros alunos e dos professores. Na parte prática do trabalho, por ser algo novo para eles e que ia ter um impacto para a escola inteira, vimos comprometimento e alegria em fazer. A prática foi algo esperado tanto pelos alunos do PEJA, quanto para os da educação integral, que ficam curiosos com o que virá.
O painel fica como um legado dos saberes do PEJA, assim como mensagens de estímulo, anti racistas e de respeito e reflexão para toda a comunidade escolar.
JESUS, Carolina Maria de. "Quarto de despejo – Diário de uma favelada". São Paulo: Ática, 1993.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Boitempo Editorial, São Paulo, 2016.
"I AM A CLICHÉ: Ecos da Estética Punk". Curadoria: Emma Lavigne, 2010.