PRISCILA SANTOS ROSARIO
Como filha de uma professora que não tinha formação, mas que lecionava na comunidade carioca do Parque União, onde morava, minha mãe foi a inspiração e o incentivo para eu escolher o magistério como profissão. Casada, sou mãe de uma menina esperta, falante e inteligente chamada Luísa, de apenas 3 anos. Professora há 20 anos, sendo 14 anos como professora regente desta Rede Municipal de Ensino, e nos últimos 5 anos, atuando na Educação Especial. Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pós-graduada em Educação Especial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO).
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: PII/Professora
- Refletir sobre a importância da escolha e do direito ao voto.
- Promover a compreensão da cidadania por meio de vivências práticas que explorem o exercício de direitos e deveres em contextos democráticos.
Nossa turma, composta por 10 alunos com idades entre 10 e 33 anos, encontra na escola seu principal espaço de socialização e de construção de vínculos. Considerando esse contexto, nosso trabalho é guiado pela escuta ativa, valorizando as inquietações e curiosidades do grupo como ponto de partida para aprendizagens significativas. Um exemplo marcante foi a simulação de um processo eleitoral para a escolha do nome da turma, desenvolvida a partir do questionamento de um aluno sobre o meu papel como voluntária nas Eleições municipais deste ano.
Após sondarmos quais alunos possuíam título de eleitor, percebemos que apenas um deles tinha e exercia o direito ao voto. Isso despertou o interesse do grupo e motivou a criação de uma atividade que abordasse conceitos de cidadania e de democracia de forma prática e vivencial. O projeto foi organizado em etapas:
1. Produção de materiais: Os alunos confeccionaram títulos de eleitor, cédulas de votação, urnas e cabines.
2. Campanha eleitoral: Funcionários da escola sugeriram cinco opções de nomes para a turma: Turma da Festa, Especial Mente, Turma Encantada, Turma da Alegria e Extraordinários. Os nomes foram amplamente divulgadas por meio de lembretes e cartazes.
3. Vivência do processo eleitoral: Todos os participantes, incluindo alunos e funcionários, seguiram um protocolo realista, com apresentação de documento, assinatura no caderno de votação e registro em gráficos dos votos, onde o nome eleito foi “Especial Mente”.
4. Ampliação do repertório: Paralelamente, os alunos discutiram as funções de cargos políticos como prefeito e vereador.
Com essa simulação, cada aluno da Classe Especial exerceu o papel de cidadão que, segundo Marshall, é aquele que exerce de forma plena e efetiva seus direitos civis, políticos e sociais. Nesse sentido, vale destacar que nossa prática está atrelada ao Projeto Político-Pedagógico da Escola Municipal Tagore que tem como missão o desenvolvimento integral do estudante com o objetivo de formar cidadãos autônomos, críticos, responsáveis e conscientes, com habilidades importantes para promoção de uma sociedade melhor. Este ano nosso PPP abrange o seguinte tema: “E M Tagore acompanha o G20 por um mundo justo e um planeta sustentável”, que foi dividido pelos quatro bimestres com os seguintes assuntos: “Eu e o futuro, construindo nosso projeto de vida”; “Eu, a arte, a ciência e a cultura”; “Eleições - autonomia e cidadania” e “Eu e o mundo”. Com o assunto desenvolvido no 3º bimestre: “Eleições - autonomia e cidadania”, a Classe teve a oportunidade, através da ludicidade, de compreender o que é ser cidadão e ter o direito de escolha assim como Freire afirma que a cidadania consiste na conscientização dos direitos e dos deveres, bem como na prática efetiva da democracia, onde o exercício da cidadania é essencial para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e verdadeiramente democrática.
Essa atividade promoveu o engajamento de toda a comunidade escolar, unindo alunos, professores, funcionários e gestores em um projeto colaborativo e inclusivo. A simulação das eleições para a escolha do nome da turma conferiu protagonismo aos alunos, que participaram ativamente de todas as etapas, desde a confecção dos materiais até a apuração dos votos. Observamos o surgimento do interesse pela participação cidadã, com alguns alunos manifestando o desejo de obter o título de eleitor.
A metodologia utilizada mostrou-se plenamente adequada ao contexto da prática, pois partiu das curiosidades do grupo, respeitou suas necessidades específicas e conectou o aprendizado ao cotidiano e ao projeto político-pedagógico. Como contribuição, além de fortalecer o senso de pertencimento e a compreensão sobre democracia, a atividade desenvolveu competências socioemocionais, como autonomia, responsabilidade e colaboração, , beneficiando tanto os alunos quanto a comunidade escolar como um todo.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 62. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2018.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.