A atividade foi desenvolvida nas aulas Projetos Integradores, com duas turmas de nono ano. Intencionando o combate aos discursos negacionistas, vigentes nos últimos anos, sobre o período da Ditadura Civil Militar no Brasil (1964-1985) e ainda despertar nos discentes, a necessidade de preservar a memória histórica , a fim de não serem repetidos as mazelas e erros do passado, que provocaram dores e silenciamentos sociais, o projeto foi raciocinado e dividido nos seguintes blocos: Etapa 1- aulas expositivas sobre o Governo João Goulart- o último governo civil antes do Golpe-; debate sobre a sociedade da época: seus objetivos, as teorias da conspiração, medos e grupos discriminados; o plano das Reformas de Base de Jango; panorama do golpe e do período ditatorial; a relevância da cultura na época de silenciamento e a intensa produção artística como forma de protesto e de denúncia; relatos da Comissão Nacional da Verdade como maneiras de registro histórico e de denúncia às torturas e às invisibilidades praticadas contra estudantes, artistas, professores, em suma, à sociedade com um todo. Atividade inicial: produção textual: Como esquecer 1964? É possível? Etapa 2- foco na trajetória de Chico Buarque de Hollanda, como artista e intelectual, mapeando suas músicas de protesto e de denúncia às ações militares. Nas aulas, os estudantes, separados em grupos, recebiam as letras de canções como Geni e o Zepelim, Cálice, Angélica, Acorda, amor, Vai passar, João e Maria, Quem te viu, quem te vê, Pedro, pedreiro, a fim de analisá-las como fontes históricas sobre o período. Foram registradas as anotações, impressões e elementos que simbolizassem protestos e que servissem de base para a censura. Em aulas seguintes, os estudantes iniciaram uma pesquisa sobre a biografia total de Chico e relatavam seus aspectos mais relevantes: curiosidades, conhecimentos e desconhecimentos sobre o artista, a fim de construírem seus planos de conhecimento, costurando-os à sua importância para o país até hoje e o porquê de preservar suas obras e presença. Etapa 3- em grupos para a atividade, foi proposta a cada um, a escolha de uma ou duas canções do compositor, a fim de transformarem-nas em elementos concretos, isto é, demonstrar a música e sua crítica à Ditadura Civil Militar em pontos palpáveis, possibilitando a comunidade escolar, conhecer Chico Buarque sob a ótica de pontos de construção. Foi iniciada, portanto, a fase das ideias, onde cada grupo, de posse de sua canção escolhida, elaborou suas propostas de trabalho, utilizando uma diversidade de materiais: cola, papel, técnica de papel marchê, argila, cartolina, bonecos em miniatura, massa de modelas, hidrocor, sangue artificial, suco de uva, tudo que funcionasse como ferramenta para erguer a mensagem das músicas de maneira visível, tátil e concreta.
A atividade, separada em etapas, possibilitou a averiguação da aprendizagem histórica dos discentes e. sobretudo, graças ao planejamento das aulas, garantiu o andamento dos trabalhos. O tempo estabelecido- a Feira de História aconteceu em agosto- estimulou todos a trabalharem de forma rápida e inteligente, aparando arestas e orientando os eixos das ideias do projeto- Chico Buarque 80 anos- e as ideias dos próprios grupos. Foram construídos trabalhos impactantes, como o da música "Cálice", cujo grupo construiu um rosto desfigurado e silenciado pela tortura, com um cálice derramando tinta, simbolizando o sangue; outro, que reconstituiu a cidadezinha de Geni, personagem que sofre transfobia dos demais e ainda alinhou um desenho, reproduzindo o rosto de Chico em um de seus primeiros discos, escrevendo frases de impacto; outro que construiu um palco com Chico sendo silenciado e a plateia sofrendo as torturas. Ao fim, inferiu-se que a memória de Chico, testemunha viva da época, é uma fonte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Comissão Nacional da Verdade. Disponível em https://cnv.memoriasreveladas.gov.br/institucional-acesso-informacao/a-cnv.html.
Músicas de Chico Buarque de Hollanda.
PAIVA, Marcelo R. Feliz Ano Velho. SP: Ed. Brasiliense, 1982.