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Rocinha: de fazenda a maior favela do Rio de Janeiro
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Publicado em 17/02/2016
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Vista aérea da Rocinha, bairro que abriga mais de 70 mil moradores (Foto: Chensiyuan)

Conhecida pela intensa movimentação de pessoas ao longo de todo o dia, a Rocinha abriga um vasto comércio, com farmácias, supermercados, lojas, bares, agências bancárias e um posto dos Correios. O ritmo agitado não diminui com o avanço da madrugada. Na Via Ápia e no Largo do Boiadeiro, duas das principais ruas, é possível encontrar, por exemplo, restaurantes e biroscas abertas 24 horas por dia para atender a demanda dos moradores. 

O local, que é bairro desde 1993, se localiza em uma região de grande valor imobiliário, tendo como vizinhos Gávea, São Conrado e Vidigal. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, cerca de 70.000 pessoas moram na Rocinha, embora os próprios moradores acreditem que esse número já passa dos 100 mil. O bairro, segundo dados do Sebren 2010 (Instituto Pereira Passos), ocupa uma área de aproximadamente 847.629m².  Ainda segundo o mesmo levantamento, a Rocinha é considerada a maior favela do Rio de Janeiro, em termos populacionais, tendo 14 sub-bairros: Barcelos, Rua 1, Rua 2, Rua 3, Rua Nova, Roupa Suja, Cachopa, Vila Verde, Macega, Vila Cruzado, 199, Laboriaux, Boiadeiro e Dionéia.

Como Surgiu

No início do século passado, o local onde hoje é a Rocinha era coberto por uma vasta e densa floresta, que se estendia entre o Morro Dois Irmãos e o Morro do Cochrane. No início dos anos 1900, já havia a Estrada da Gávea - principal rua do bairro - que chegava até as terras de Conrado Niemeyer, engenheiro e político brasileiro. Com o passar do tempo e a chegada dos anos 1930, pessoas que transitavam pela Estrada da Gávea, em direção às terras de Conrado, começaram a se fixar na área de uma antiga fazenda que ficava no meio do caminho, a Quebra-Cangalha.

Com a ocupação irregular da Quebra-Cangalha, o terreno foi dividido em pequenos lotes, que passaram a pertencer à Companhia Castro Guidão, à empresa Bairro Barcelos, à Companhia Cristo Redentor e à Companhia Francesa Laboriaux. Os moradores que ali se instalaram começaram a cultivar hortaliças, vendidas no Largo das Três Vendas (hoje, Praça Santos Dumont), na Gávea. Quando os compradores perguntavam a origem dos alimentos, os comerciantes mencionavam as ‘rocinhas’, em alusão ao local em que moravam e plantavam as hortaliças, e, assim, surgiu o nome do bairro.

Estrada da Gávea e a corrida das ‘baratinhas’

Entre 1933 e meados da década de 1950, a Estrada da Gávea, via que corta a Rocinha ao meio, fez parte do importante Circuito da Gávea, ou Trampolim dos Diabos, como ficou conhecido o trajeto da prova automobilística que acontecia ali. Os pilotos percorriam mais de dez quilômetros e precisavam dirigir com muito cuidado e habilidade, devido às curvas sinuosas. A prova começava na Rua Marquês de São Vicente, passava pelo Jockey Club Brasileiro, seguia pela Avenida Visconde de Albuquerque, no Leblon, e subia a Avenida Niemeyer. Para completar o circuito, era preciso percorrer, ainda, toda a Estrada da Gávea - asfaltada em 1938 para abrigar as corridas - e chegar até o ponto de largada, na Marquês de São Vicente.

Os motoristas das "baratinhas", como eram chamados os carros de corridas, enfrentavam muitas dificuldades ao longo do trajeto, como ruas esburacadas e sem asfalto. A corrida era famosa e atraía muitos competidores estrangeiros, além de um público gigantesco.

O crescimento populacional e a tentativa de remoção

Nas décadas de 1950 e 1960, o saneamento na favela era precário. No detalhe, moradora atravessa uma vala (Foto: José Guilherme Oliveira)

No início dos anos 1950 e durante os anos 1960, novos moradores chegaram à Rocinha, oriundos de diversas regiões do Nordeste, em busca de trabalho e de uma qualidade de vida melhor. A população cresceu muito e não havia ali serviços essenciais, como água encanada e saneamento básico, para atender tanta gente, que passou a viver em condições bastante precárias.

Na primeira metade dos anos 1960, o então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, implantou a política de remoção das favelas. O intuito era fazer com que as pessoas que moravam nessas áreas fossem transferidas para regiões mais afastadas do Centro e da Zona Sul da cidade. Segundo o historiador Milton Teixeira, a Rocinha estava na lista de remoção. Ele afirma que esse era um dos objetivos de Lacerda ao criar o conjunto habitacional da Cidade de Deus, na Zona Oeste.

Entretanto, com o fim de seu mandato, em 1965, a ideia perdeu força e a Rocinha não teve o mesmo destino que a favela do Parque Proletário da Gávea, por exemplo.

Mobilidade urbana e expansão territorial

Com o passar dos anos, a Rocinha continuou a receber muitos migrantes de diversas partes do país. Os novos habitantes foram fundamentais, por exemplo, em obras de grande porte que aconteciam na cidade do Rio de Janeiro, como a construção dos túneis Rebouças e Dois Irmãos (atual Zuzu Angel), inaugurados em 1967 e 1971, respectivamente. Além desses dois empreendimentos, os operários que erguiam grandes prédios nos bairros de Ipanema e Copacabana também vinham do alto do morro, perto de São Conrado.

Com a construção da AutoEstrada Lagoa-Barra, em 1976, a parte baixa da Rocinha foi destruída. Na década seguinte, os moradores começaram a expandir as casas para a parte superior do morro, povoando as áreas vizinhas ao bairro da Gávea. Com isso, uma parte inexplorada da floresta passou a ser habitada, como a localidade hoje chamada Laboriaux.

Infraestrutura na atualidade

Unidades habitacionais do PAC (Foto:Divulgação)

Além de um comércio variado, que inclui grandes lojas varejistas, a Rocinha possui três escolas de Ensino Fundamental - Ciep Doutor Bento Rubião, E.M. Abelardo Chacrinha Barbosa e E.M. Francisco de Paula Brito. É lá que fica também o Espaço de Desenvolvimento Infantil Professora Edir Caseiro Ribeiro e o primeiro Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais (Gente), que ocupa o lugar da antiga E. M. André Urani.

Os moradores também possuem uma grande rede de saúde primária - Clínica da Família, posto de Agente Comunitário de Saúde (Pacs), posto de saúde Albert Sabin, Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), além do Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Em virtude das obras do PAC 1 (Programa de Aceleração do Crescimento), os moradores podem desfrutar de um complexo esportivo localizado em frente à comunidade, com piscinas, quadra de esportes, aparelhos para a terceira idade e centro médico. Além disso, foi construída uma nova passarela sobre a AutoEstrada Lagoa-Barra, projetada por Oscar Niemeyer, que liga o complexo à Rocinha. O bairro também recebeu 114 unidades habitacionais, para moradores que viviam em áreas de risco.

Lazer e cultura

Considerada um grande reduto da população do Nordeste na cidade, a Rocinha é marcada por diversas características daquela região. O Largo do Boiadeiro, na parte baixa do morro, é o lugar ideal para comprar produtos tipicamente nordestinos, como especiarias e temperos, vindos direto da ‘terrinha’. É ali também que ocorre a feira dominical, com venda de frutas e legumes variados.

Outra característica do bairro são os forrós, que acontecem no Clube do Emoções, na Estrada da Gávea, além de bailes funk e pagodes. A quadra da Acadêmicos da Rocinha é também muito frequentada por moradores e turistas que buscam diversão. A agremiação surgiu em 1988 com a junção de três blocos: o Império da Gávea, o Sangue Jovem e o Unidos da Rocinha. 

Camisetas produzidas por moradores ficam à venda na Rua 1, área mais próxima da Gávea (Foto: Paulo Abrantes)

Para aqueles que desejam relaxar e ler um bom livro, a Biblioteca Parque, inaugurada em 2012, tem um amplo acervo, além de teatro e sala multiuso.

Turismo

Por sua grandiosidade e por estar localizada na Zona Sul, a Rocinha é uma das favelas mais procuradas pelos turistas. Seja em cima de jipes ou a pé, dezenas de visitantes conhecem as vielas, passam pelos sub-bairros e experimentam os diversos tipos de culinária existentes no local. Na Rua 1, perto do número 199, são vendidos souvenires, feitos por moradores, com imagens do local.

Fontes: Jornal O Globo, Jornal Fala Roça, Jornal da PUC, Arquidiocese do Rio de Janeiro, Portal Geo Rio, Governo do Estado e Prefeitura do Rio de Janeiro.

 

* Beatriz Calado, estagiária, com supervisão de Regina Protásio. 

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