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Brás de Pina, a Princesinha da Leopoldina
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Publicado em 23/02/2018
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Brás de Pina, bairro cortado pelo ramal de Saracuruna. Foto Junius, Wikimedia Commons

Brás de Pina fica na Zona da Leopoldina do Rio de Janeiro e faz divisa com a Penha Circular, Vila da Penha, Cordovil, Vista Alegre e Irajá. Até a construção da Avenida Brasil, na década de 1940, suas terras alcançavam a Baía de Guanabara. O bairro tem cerca de 60 mil habitantes, segundo o censo de 2010, e uma história que cruza com a da cidade de Armação dos Búzios, no litoral fluminense. Ambos os lugares têm nome e povoamento relacionados ao Visconde de Brás de Pina, filho de nobres portugueses nascido no Brasil e um dos grandes empreendedores da capitania do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XVIII.

As terras hoje ocupadas pelo bairro carioca eram de sua propriedade. Nelas, eram produzidos açúcar e aguardente, artigo bastante procurado pelos traficantes negreiros da cidade da época, por ser uma das principais moedas de troca por escravos, na África. Mas a principal atividade de Brás de Pina não era a de senhor de engenho e sim a de contratador de pesca da baleia. Ele foi a primeira pessoa da capitania a obter concessão para manufaturar os produtos oriundos do cetáceo, como o óleo, o espermacete e a barbatana, ampla e respectivamente utilizados na iluminação das ruas e das residências, na fabricação de velas e na confecção do vestuário feminino, entre outros usos.

Eram manufaturas produzidas nas armações que o visconde mantinha em Búzios, na região de Cabo Frio, e na área urbana do Rio, nas proximidades da Candelária, onde também construiu um porto para embarcação das mercadorias provenientes de seus negócios. O Cais de Brás de Pina era, em toda a cidade, o único feito de pedra. Provavelmente, por causa de sua localização e estrutura foi escolhido para se transformar no porto oficial de embarque do ouro vindo das Minas Gerais, motivo pelo qual passou a ser denominado de Cais dos Mineiros. Com isso, a armação localizada na área urbana do Rio acabou desativada, aumentando a importância da que havia em Búzios, até 1765, quando terminou sua concessão de contratador da pesca da baleia. Já o porto do visconde se tornou o principal do Rio de Janeiro por mais de um século e meio.

Mistério cinematográfico

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Ruínas do antigo engenho do século XVIII, onde foi gravado, em 1917, A quadrilha do esqueleto, primeiro filme policial produzido no Brasil. Jornal A Noite, 17/4/1940. BN Digital, domínio público

A fazenda de Brás de Pina ficava situada na maior e mais próspera freguesia rural do Rio, a de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá. Segundo Brasil Gérson, em Ruas do Rio, a estrutura da propriedade foi erguida numa elevação, onde hoje fica a Rua Guaporé, nas imediações da linha de trem. Além do engenho e da residência, havia uma capela, a de Nossa Senhora da Conceição, citada em documento histórico como “das melhores do Recôncavo”, expressão usada pelos setecentistas para chamar as terras no entorno da Baía de Guanabara. Dessas construções partiam uma via em direção à Estrada do Quitungo e outra rumo ao Porto Velho de Irajá (atual Rua Antenor Navarro).

As ruínas do engenho ainda eram visíveis em meados do século XX. Em 1917, foram usadas como cenário do primeiro filme policial brasileiro, intitulado A quadrilha do esqueleto, segundo o jornal A Noite de 17 de fevereiro de 1940. Sob os grossos paredões de pedra das construções havia corredores subterrâneos. Na versão popular, tais catacumbas interligavam um suposto convento de jesuítas, que ali teria existido, à igreja matriz da Freguesia do Irajá. Gérson, contudo, garante que não há qualquer registro histórico sobre a existência de tal convento e que, possivelmente, os subterrâneos eram caves – túneis de armazenamento que costumavam ser construídos sob as moradias e os engenhos para melhor conservação das bebidas e dos alimentos.

Urbanização

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A Vila Guanabara em foto da Revista da Semana, edição especial de urbanismo publicada em maio de 1941. BN Digital, domínio público

De acordo com Brasil Gérson, ainda no século XVIII, o engenho de Brás de Pina foi adquirido por D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas de Castelo Branco, proprietário das terras de Inhaúma e único brasileiro que se tornou bispo (de 1774 a 1805) da Arquidiocese do Rio de Janeiro, durante o período colonial. Com sua morte, a propriedade foi repassada para herdeiros. Em meados do século XIX, a antiga fazenda já estava dividida em grandes glebas pertencentes a várias famílias, entre elas os Gama, os Ene e os Lobo. Posteriormente, parte das terras de Brás de Pina e áreas circunvizinhas foi comprada pelos Guinle.

Com a inauguração, em 1886, da Estrada de Ferro do Norte (incorporada em 1898 pela Leopoldina Railway Company) – interligando São Francisco Xavier a Meriti –, o crescimento da região se acelerou e os bairros que integram a atual Zona da Leopoldina começaram a tomar forma. A Estação de Brás de Pina foi inaugurada em 1910 e, na década seguinte, a Cia. Imobiliária Kosmos, de propriedade dos Guinle, inaugurou a Vila Guanabara, inspirada no projeto inglês das cidades-jardins. Com ruas planejadas, casas em estilo colonial e muitas árvores, a estratégia de venda comparava o empreendimento à Vila Ipanema. O projeto ainda incluía um centro comercial ao lado da linha férrea e um espaço para a vida social: o Guanabara Tennis Clube, atual Brás de Pina Country Club. Em 1929, a Cia. ainda entregou aos moradores a Igreja de Santa Cecília.

Anos dourados

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Igreja de Santa Cecília, construída em 1929 pela Cia. Imobiliária Kosmos, da família Guinle. Foto Butterfly. Flickr, Creative Commons

Não demorou muito para o novo bairro ficar conhecido como Princesinha da Leopoldina. Na edição de 16 de novembro de 1931, o jornal O Globo publicou foto de “uma das mais pitorescas vivendas da Vila Guanabara”. Tratava-se de uma casa hoje abandonada e conhecida como Castelinho de Brás de Pina, que a Associação de Moradores sonha em transformar em um centro cultural. Construída pelo exportador de café Ruy Campista, a residência foi comprada por Othon Silva e Souza, que tinha um colégio particular no bairro (hoje, a família tem várias escolas espalhadas pelas zonas Norte e Oeste do Rio). Ficaram famosas as grandes festas que ele ali promovia e que, não raro, saíam nas colunas sociais dos periódicos da cidade.

Wagner Netto, antigo morador do bairro, disse ao O Globo, em entrevista de 24 de novembro de 2012, que naqueles tempos era chique morar em Brás de Pina, onde a então jovem Dolores Duran aprendeu a tocar piano. Hoje, o bairro tem uma rua que homenageia a lendária cantora e compositora carioca. O projeto que visa transformar o Castelinho em um centro cultural também leva o seu nome, mas, depois de ter sido aprovado pela administração do município no final do século XX, ele nunca mais saiu da gaveta.

 

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