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Catumbi, local de origem para diversos movimentos sociais
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Publicado em 18/12/2015
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cemiterioeruasfotoaugustostahlEstácio de Sá doou as terras onde hoje se encontra o bairro do Catumbi aos jesuítas, que formaram engenhos de cana-de-açúcar. Com a expulsão dos religiosos do Brasil em 1759, as terras foram povoadas paulatinamente, divididas em chácaras privadas de ricos proprietários. Em tupi, Catumbi significa rio na sombra. Tal rio descia do Morro do França, em Santa Teresa, e desaguava na Baía de Guanabara.

As chácaras que dominavam o local no século XIX deram lugar a ruas como a Emília Guimarães, a Carolina Reidner e a do Chichorro, cujos nomes homenageiam, respectivamente, a mãe, a sogra e o próprio dono da propriedade, que cedeu a terra.

 Por essa época, o Catumbi recebeu o clã de ciganos ibéricos Calon, que chegaram a somar 150 famílias, nas décadas de 1940 e 1950. Miriam Alves de Souza, mestre em Antropologia pela UFF, relata que os Calon chegaram ao Brasil, em sua maioria, deportados de Portugal e, em menor parte, acompanhando D. João VI. Eram encarregados de festividades na corte. No Rio, deixaram o nomadismo e conseguiram posições de trabalho no Desembargo do Paço (ápice do sistema judiciário de então) e no mercado de escravos. 

O sistema de obrigações recíprocas – quem tem posses auxilia membros desafortunados – é uma característica marcante do clã, e a fundação, em 1940, da Sociedade Beneficente Nossa Senhora das Graças, de ajuda mútua, é apenas a parte mais evidente desse acordo tácito. A Sociedade funcionou em um casarão na Rua Carolina Reidner até 1970. A identidade étnica do grupo se revela no gosto por usar joias de ouro, roupas coloridas e falar palavras do dialeto chibe dentro de casa. Ainda hoje atuam no judiciário carioca.

Debret Mon attelier de Catumbi à Rio de Janeiro 1816 fundação Castro Maya

Junto com a corte e os Calon, aportaram no Rio de Janeiro, no início do século XIX, artistas franceses, como o pintor Jean-Baptiste Debret, que se instalou em uma pensão no Catumbi logo que chegou ao Brasil, em 1816, mudando-se, naquele mesmo ano, para um sobrado. Ambos os lugares foram retratados pelo artista em aquarelas, intituladas L´auberg e Mon Attelier de Catumbi a Rio de Janeiro.

Cemitério para a nobreza

Na metade do século XIX, a cidade era assolada pela febre amarela, e foi necessário construir o primeiro cemitério do Brasil dedicado a não indigentes ou escravos – o São Francisco de Paula da Ordem Terceira, em 1850. Até sua inauguração, somente religiosos e ricos eram sepultados nas criptas das igrejas.

O cemitério foi local de sepultamento de personalidades, como Duque de Caxias, em 1880 (posteriormente transferido para o Pantheon, na Avenida Presidente Vargas, em 1949), o Barão de Mauá, Francisco Manoel da Silva, maestro que compôs o Hino Nacional, além de barões, baronesas, viscondes e viscondessas – o cemitério foi o mais utilizado pela nobreza do Império.

 Indústrias

Em fins do século XIX, algumas indústrias se instalaram no local, como a Refinaria Ramiro S.A., mais conhecida como Fábrica de Açúcar Brasil, fundada em 1885 na Rua dos Coqueiros, até ser desapropriada em 1967. Atualmente, a cerca de 200 metros da saída do Túnel Santa Bárbara, resiste apenas a sua chaminé. 

Já os prédios da antiga Cervejaria Brahma, que desde a construção da Passarela Professor Darcy Ribeiro – o Sambódromo – estavam protegidos (porém não tombados), terminaram por serem implodidos em 2011. Isso aconteceu para que o Sambódromo fosse ampliado, a fim de seguir o projeto original de Oscar Niemeyer, e também para atender o compromisso da cidade com os Jogos Olímpicos de 2016, quando o espaço vai sediar as competições de tiro e a chegada da maratona.

Escotismo

Nas primeiras décadas do século XX, cabe ainda registrar o surgimento do escotismo no Brasil, mais especificamente na casa de número 13 da Rua do Chichorro (onde funcionou até 1914); e o fato de Pixinguinha, grande nome da música brasileira, ter residido lá com os pais e irmãos, na Rua Eleone de Almeida, em um casarão de oito quartos e quintal.

Carnaval

O bairro não se situa em frente à Rua Marquês de Sapucaí por acaso: tem alma carnavalesca. Ainda no início do século XX, os desfiles de agremiações – como os ranchos carnavalescos União dos Caçadores (campeão de vários carnavais), Unidos do Cunha, Inocentes do Catumbi e os blocos Vai Quem Quer e dos Zapatas – inspiraram o surgimento das escolas de samba em 1932, sendo que os primeiros desfiles aconteceram na Praça Onze e no Catumbi. 

As festas de Momo continuaram animadas na segunda metade do século XX, com a criação, em 1956, do famoso bloco Bafo de Onça. Além disso, o Sambódromo, embora esteja situado no bairro Cidade Nova, desemboca na Rua Frei Caneca, em frente à Rua do Catumbi, trazendo o movimento esfuziante da dispersão das escolas de samba para as ruas próximas.

Outro marco festivo do bairro foi o Astória Futebol Clube, o Azulão do Catumbi, que divertia a população com carnaval e esporte, até fechar em 1975. O seu bloco carnavalesco era concorrido, inclusive por estrangeiros, dada a proximidade com a Marquês de Sapucaí. Em 1971, também deu lugar ao primeiro Baile Black do Brasil, capitaneado por Oseas Moura dos Santos, o Mr. Funky Santos. A data é considerada um marco porque, a partir daí, formou-se uma rede de produção e consumo musical em torno do circuito de festas do gênero no Rio de Janeiro.

Moreira da Silva, conhecido como Kid Morengueira, compositor e intérprete de sambas de breque, vencedor por três vezes do concurso de melhor samba da então capital federal, nos anos 1930, escolheu o bairro para viver os últimos anos de sua vida.

Túnel Santa Bárbara

rua dos coqueiros no catumbi em 1928Em 1963 aconteceu a obra que transformou a região: a construção do Túnel Santa Bárbara. Antes disso, em 1962, o governo Carlos Lacerda canalizou as águas pluviais por meio de uma extensa e profunda galeria, solucionando o problema das enchentes que chegaram a ser motivo de uma marchinha de carnaval, que dizia: “Choveu, choveu, Catumbi encheu!”. Com a abertura do túnel, a ligação entre a região central da cidade e a Zona Sul levou o governador do estado da Guanabara, Francisco Negrão de Lima, quatro anos depois, a desapropriar, por preço abaixo do mercado, dois terços das casas, demolindo muitas vilas datadas do final do século XIX.

 O governador planejava construir moradias para pessoas que moravam no subúrbio e se deslocavam até o Centro de trem. Mas a indenização paga aos moradores locais não foi suficiente para que participassem do plano imobiliário.

A população ameaçada de despejo uniu-se ao padre Mário Prigol, da igreja do bairro, Nossa Senhora das Dores da Salette, para lutar contra a expulsão, criando a primeira associação de moradores do município do Rio de Janeiro com alvará e registro. A mobilização da comunidade, com a interferência do pároco e manifestações em frente à Câmara dos Deputados, conseguiu salvar do “bota-abaixo” um terço das casas visadas e abrigou 300 famílias desalojadas.

Ainda assim, em 1967, algumas ruas desapareceram completamente, dando lugar às vias de acesso ao Túnel Santa Bárbara. O jornalista Millôr Fernandes escreveu na revista Veja: “Transformaram o Catumbi em mais um viaduto”.

Atualmente, a população dispõe de seis unidades escolares públicas, sendo três creches, duas escolas municipais de Ensino Fundamental (uma delas tombada: E.M. Estados Unidos) e um colégio estadual. No âmbito da saúde, a comunidade conta com uma unidade da Clínica da Família, na Avenida Trinta e Um de Março, próximo ao Túnel Santa Bárbara.

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