Com um dos menores índices demográficos da cidade – pouco mais que 110 mil habitantes, segundo o Censo 2010 do IBGE – e muito espaço livre para a expansão imobiliária (quase 14 mil hectares), Guaratiba, na Zona Oeste, se divide em sub-regiões que ainda preservam a natureza e, de certa forma, sua vocação rural. Ali se concentram chácaras de hortifrutigranjeiros e produtores de plantas ornamentais, que revendem mudas para todo o país. Alguns desses empreendedores trabalharam diretamente com Roberto Burle Marx e se dedicam ao plantio de ervas medicinais e árvores frutíferas. Um dos endereços verdes mais famosos é o Horto das Palmeiras, uma área de 175 mil metros quadrados que é a maior produtora da espécie no Brasil. É possível agendar uma visita guiada e conhecer, inclusive, espécies exóticas.
Um importante acesso ao Parque Estadual da Pedra Branca, considerado a maior floresta do mundo dentro de uma mesma cidade, fica no fim da Estrada do Morgado. O local é repleto de trilhas, cachoeiras, mirantes e reúne uma variedade riquíssima de espécies da flora e da fauna da Mata Atlântica.
O bairro também é conhecido como Ilha de Guaratiba e, a esse respeito, existe mais de uma explicação do folclore popular. Há quem diga que se trata de uma corruptela de William, o proprietário inglês da maior parte daquelas terras no século XIX. A segunda possibilidade seria a inspiração no Morro da Ilha, que acabou batizando, também, uma estrada e um largo. Outra se originaria da época em que riachos confluentes formavam uma bacia, dando a impressão de que o trecho de terra entre eles era uma ilha. Por fim, existiu também uma propriedade, chamada Engenho da Ilha, de Anna Sá Freire, cujo nome teria sido incorporado por toda a localidade.
Segundo Fania Fridman, professora adjunta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (IPPUR), a densidade demográfica do bairro mais que dobrou entre a década de 1820 (5.434 moradores) e a de 1890 (12.654 moradores). De início, a ocupação ocorreu pela subdivisão de fazendas de café ou açúcar em glebas. Até que, no fim do século XIX, se deu o deslocamento da produção cafeeira em direção ao Vale do Paraíba, o que extinguiu o ciclo de monoculturas. Somente em 1917, foi implantada a primeira linha férrea da região, ligando Guaratiba a Campo Grande.
Vale a pena visitar
Construída em 1773 e doada aos padres carmelitas pelo capitão Francisco Pais Ferreira, que era proprietário do Engenho de Fora (uma das principais fazendas da área), a Igreja Matriz Salvador do Mundo ainda guarda suas características originais. Tombada pelo Iphan em 1938, fica na Estrada da Matriz, 6.496. Muito bem conservada, a Igreja de Nossa Senhora de Santana, em estilo colonial, é de 1909, e fica no Largo da Ilha.
Na Estrada do Mato Alto, outras construções históricas, mas não religiosas, merecem destaque. Como a sede da Fazenda Modelo. Os nomes antigos da propriedade reforçam as marcas identitárias do bairro: Colônia Agrícola, Granja de Criação, Companhia Transporte de Café, Granja Pastoril Agrícola e Companhia Reunida Normandia. Na mesma estrada, está a Capela Magdalena, atração turística desde 1990. Seu proprietário, Roberto de Regina, se mudou para Guaratiba fugindo do estresse urbano e ali construiu a casa, em homenagem à mãe. Decorada com afrescos em estilo bizantino e barroco, a Capela fica em meio a um jardim de 28 mil metros quadrados. À noite, após um concerto de cravo do próprio Roberto, é servido no local um banquete de inspiração indiana.
Existe, ainda, o Castelo dos Guimarães, localizado na Estrada da Ilha de Guaratiba, que pertencia a Joaquim Fernandes de Carvalho Guimarães, subdelegado de polícia do bairro no fim do século XIX. Outro ponto bastante conhecido é o Alambique dos Mudos, localizado no Sítio Ceará, onde, desde 1928, se cultiva a cana-de-açúcar, com produção de aguardente, rapadura e melado. Em 1945, o local chegou a receber a visita do então presidente Getúlio Vargas. Para quem aprecia cavalos, uma boa opção é conhecer o Haras Golden Horse, dedicado à criação das raças manga-larga – marchador e pampa –, na Estrada das Tachas, 4.100.