Nascida em 1894, na cidade de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, Guiomar Novaes era a 17ª de uma família com 19 filhos. Anna, sua mãe, foi pianista, compositora e a maior incentivadora do talento da filha. O pai Manoel era major e negociante de café. Ao perceber a compulsão da menina pelo instrumento já aos quatro anos de idade, quando ela nem sequer sabia ler e escrever, contratou seu primeiro professor de piano. Quando Guiomar chegou aos seis, a família se mudou para São Paulo, onde a menina foi encaminhada para o professor italiano Luigi Chiaffarelli, que lhe deu toda uma base técnica e teórica. Em apenas dois anos, ela já estreava profissionalmente nas salas de concerto e chegava às páginas dos jornais como menina prodígio.
Aos 13, recebeu do governo brasileiro uma bolsa de estudos para um curso no Conservatório de Paris. Havia apenas duas vagas para estrangeiros, mas Guiomar encantou de tal maneira a banca examinadora, da qual fazia parte o compositor Debussy, que ficou em primeiro lugar. Após dois anos de estudo, saiu em turnê pela Europa e só retornou ao Brasil em 1914, quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Com um dom de interpretação genial, especialmente nas peças de Chopin e de Schumann, foi também uma grande divulgadora da obra de Heitor Villa-Lobos fora do Brasil, ao longo de 62 anos de carreira.
Pelos palcos do mundo
Guiomar Novaes se apresentou pela primeira vez em Nova York em 1915 e, no ano seguinte, voltou à cidade para uma audição no Madison Square Garden. Seguiu-se a esse concerto outro, realizado no Carnegie Hall com acompanhamento da Orquestra Filarmônica de Nova York. De volta ao Brasil, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, tocando no Theatro Municipal de São Paulo, apesar de se pronunciar contra o tom de deboche de algumas performances de outros artistas no evento. No mesmo ano, se casou com o engenheiro e arquiteto Octávio Pinto, que havia sido seu colega de escola e com quem teve dois filhos: Anna Maria e Luís Octávio.
Na década de 1960, duas homenagens marcaram a importância da pianista no cenário internacional da música erudita. Ela foi convidada para representar a América Latina na comemoração pelo 15º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1963, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. E, em 1967, Guiomar foi escolhida pela rainha Elizabeth II para inaugurar o Queen Elizabeth Hall, em Londres. Recebeu inúmeros prêmios e condecorações, como a Ordem Nacional da Legião de Honra – mais importante comenda concedida pelo governo da França – em 1939.
A virtuose do piano também foi objeto de interesse de outros artistas. Durante a infância, Guiomar Novaes era vizinha de Monteiro Lobato, e foi inspirado nela que o escritor criou a personagem Narizinho. Para contar a história de sua carreira e como ela elevou o nome do Brasil no exterior, em 2003 a atriz Norma Bengell dirigiu o documentário Infinitamente Guiomar Novaes. Existe, ainda, uma biografia da artista, intitulada Guiomar Novaes do Brasil — A Trajetória da Pianista em Nova York, obra de Luciana Medeiros e João Luiz Sampaio. Para a felicidade das futuras gerações, a pianista deixou uma extensa discografia gravada, que dá continuidade a um de seus maiores desejos: servir de inspiração a novos talentos no país.
Fontes:
Site UOL Educação, Facebook Viva a Música, site Mulheres de São João.