À margem da Baía de Guanabara, entre importantes vias expressas da cidade (Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela) está a Maré. O bairro foi criado em janeiro de 1994, com alterações nos limites dos bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso e Manguinhos.
Até então considerada favela, a Maré passou a ser tratada como uma área totalmente urbanizada, condição que viabilizou a criação do bairro, composto por um conjunto de 15 localidades: Praia de Ramos, Parque Roquete Pinto, Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda, Parque Maré, Nova Maré, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Pinheiro, Vila dos Pinheiros, Novo Pinheiro (popularmente chamado Salsa e Merengue), Vila do João e Conjunto Esperança. A delimitação não inclui o território da comunidade de Marcílio Dias, que pertence ao bairro da Penha Circular.
Com cerca de 130 mil habitantes, a Maré é um dos nove bairros mais populosos do município, com um contingente de moradores próximo ao de Copacabana e da Barra da Tijuca, e com quase o dobro de habitantes dos bairros da Rocinha e do Alemão. Os dados são do Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE).
A região recebeu esse nome por causa dos mangues e das praias que dominavam a paisagem durante o início de sua ocupação, ainda no período colonial. Naquela época, o local exercia importante papel econômico devido à existência dos portos – Inhaúma e Maria Angu, por onde escoava a produção das fazendas locais – e à presença dos mangues, que alimentaram os engenhos de cana-de-açúcar e as olarias que ali se instalaram.
No final do século XIX, com a criação das estradas de ferro, a atividade econômica voltou-se para os centros comerciais que se formaram junto às estações da linha da Leopoldina Railways. A região acabou entrando em declínio devido à decadência do Porto e à economia açucareira. Passou, então, a abrigar pequenas propriedades rurais e pequenas manufaturas, principalmente olarias, fábricas de louça e de panelas, entre outros.
A abertura da Avenida Brasil e as palafitas da Maré
A ocupação do bairro começou a se dar de forma mais expressiva a partir da década de 1940, com a construção da variante Rio-Petrópolis, atual Avenida Brasil, para ligar o centro da cidade aos distantes subúrbios. A obra oferecia oportunidade de trabalho direto (principalmente na construção civil), além de atrair várias indústrias para a região, como a Refinaria Manguinhos, que trouxe ampla oferta de empregos e oportunidades econômicas.
Com a construção dessa via rodoviária, as primeiras famílias que ocuparam a Maré construíram suas casas. Embora já existissem núcleos de pescadores na região desde o final do século XIX, essas comunidades demarcaram territórios ao longo da Avenida Brasil, expandindo-se na direção do Canal do Cunha e da Baía de Guanabara. Nessa época, os primeiros moradores se estabeleceram no que é hoje o Morro do Timbau – único local seco da Maré (já que toda a área era um imenso manguezal).
A construção, na mesma época, da Cidade Universitária, que abrigaria a Universidade do Brasil, atual UFRJ, também teve papel relevante na ocupação da região. Muitos operários que construíram o campus foram morar na Maré durante e depois das obras.
Inaugurada em1946, a Avenida Brasil também facilitou o fluxo de migrantes, vindos, sobretudo, do Nordeste. Como as terras boas do subúrbio tornaram-se caras devido à especulação imobiliária, as áreas alagadiças no entorno da Baía foram ocupadas pela camada menos favorecida da população. Assim, a região, considerada como um dos locais mais precários de moradia urbana, ficou conhecida pelos barracos de madeira sobre a área alagadiça – as palafitas da Maré ou favelas da Maré.
O auge da ocupação se deu na década de 1970, com um expressivo aglomerado de habitações construídas sobre palafitas. A canção Alagados, do grupo Os Paralamas do Sucesso, faz um paralelo dessa realidade com a da favela de Trenchtown, na Jamaica, e da favela de Alagados, em Salvador. “Alagados, Trenchtown, Favela da Maré...” – todas têm como característica em comum as construções em palafitas.
O mapa das ruas
A partir do início da década de 1980, esse tipo de habitação começou a ser erradicado. Grandes áreas foram aterradas e conjuntos habitacionais foram construídos na região para reassentar as famílias que viviam em palafitas ou em “áreas de risco” (encostas de morros, margens inundáveis de rios).
Nesse período, parte da área do Complexo da Maré ganhou contorno oficial na cidade com a criação da XXX Região Administrativa, em 1986, e sua consequente delimitação, em 1988. Alguns anos depois, em 1994, foi criado e delimitado o bairro Maré, correspondente a toda a extensão da XXX Região Administrativa. A construção da Linha Vermelha, em 1992, também contribuiu na criação de limites para a expansão da Maré.
Em julho deste ano, a Prefeitura iniciou o reconhecimento oficial das ruas do bairro, por meio da parceria Rio+Social e da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU). O trabalho baseou-se na ação realizada pela ONG Redes de Desenvolvimento da Maré, que fez o mapeamento de ruas, becos e travessas públicas nas 15 favelas que compõem o bairro, além da comunidade Marcílio Dias.
Fontes:
Site da Prefeitura do Rio de Janeiro
Instituto Pereira Passos – IPP
Redes de Desenvolvimento da Maré (redesdamare.org.br)
AMADOR, Elmo S.. Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: homem e natureza. Rio de Janeiro: Instituto de Geociências – UFRJ, 1997
SILVA, Claudia Rose Ribeiro da. Maré: A invenção de um bairro. FGV
JUNG, Taiana Santos. Espaço Maré: histórias, trajetórias e desafios. ENCE/IBGE. 2006
JUNG, Taiana Santos. Histórias e trajetórias de um bairro chamado Maré. COC/FIOCRUZ
SANTO, Andréia Martins de Oliveira e SILVA, Eliana Sousa (org.). Vivências Educativas na Maré: Desafios e Possibilidades. Rio de Janeiro. Editora REDES da Maré, 2013.
http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21758/21758_6.PDF