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Carlos Chagas e a importância das pesquisas científicas no combate às epidemias
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Publicado por Márcia Pimentel em 22/04/2020
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Carlos Chagas. Casa de Oswaldo Cruz, dp

A Escola Municipal Carlos Chagas (4ª CRE), localizada em Ramos, nos inspira a refletir sobre o papel decisivo da ciência no combate às epidemias em nosso país. Laureado internacionalmente e aclamado pelos brasileiros como o herói da batalha contra a pandemia da gripe espanhola de 1918, que matou 35 mil pessoas no Brasil, o infectologista e epidemiologista Carlos Chagas foi uma das figuras centrais na construção de políticas de saúde pública e de pesquisas sobre os vetores das doenças contagiosas, seus tratamentos clínicos e suas formas de combate.

Formação e cenário histórico

Nascido em 1878 na pequenina cidade de Oliveira (MG), Carlos Chagas titulou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1903. Sua formação acadêmica foi marcada pela influência de dois professores muito conceituados na época. Segundo artigo publicado pela Fiocruz, assinado pela doutora em História das Ciências Simone Petraglia Kropf, eles foram: Miguel Couto – que lhe passou a concepção de que a clínica médica deveria ser sempre renovada pelos novos conhecimentos fornecidos pelas pesquisas científicas – e Francisco Fajardo – um dos pioneiros da microbiologia no Brasil, que realizava pesquisas sobre os insetos sugadores de sangue e os diferentes parasitos da malária.

Na época em que Chagas se formou, o Rio de Janeiro era conhecido, fora do país, como Cemitério de Marinheiro e de Europeu. Várias doenças epidêmicas, como a febre amarela, a malária, a tuberculose e a peste bubônica, assolavam a cidade, contagiando não apenas seus moradores, mas também aqueles que nela desembarcavam. Os surtos frequentes causavam milhares de mortes, traziam prejuízos às atividades econômicas e promoviam uma péssima imagem do Brasil. Havia até navio que se recusava a atracar no porto da cidade em função das epidemias.

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Cafua no interior de Minas. As precárias condições de moradia de grande parte da população contribuíam para o avanço das epidemias. Brasiliana/BN, dp

Diante de tal quadro, médicos e engenheiros buscavam soluções para as precárias condições sanitárias da então capital federal, agravadas pelo crescimento populacional. O cenário só começou a mudar a partir da grande reforma urbana levada a cabo pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906) e das medidas sanitárias tomadas pelo então diretor geral da Saúde Pública (1903-1909), o médico sanitarista Oswaldo Cruz, atento aos avanços científicos da época.

As epidemias, tanto no Brasil como em outros países e continentes, também causavam prejuízos comerciais e humanos à Europa, fato que contribuiu para impulsionar as pesquisas sobre micro-organismos e insetos transmissores de doenças, nas universidades europeias. Foi nesse contexto que se deu a difusão da microbiologia, da medicina tropical e de outras áreas do conhecimento fundamentais ao combate e à cura de doenças contagiosas.

Combate à malária

Inserido no movimento de estudos das doenças tropicais, desde estudante, Carlos Chagas levou para Oswaldo Cruz, em 1902, uma carta de recomendação de seu professor Francisco Fajardo. Cruz presidia o Instituto Soroterápico Federal, em Manguinhos, criado para produzir soro e vacina contra a peste bubônica, e passou a ser o orientador da tese de doutoramento de Chagas: Estudos hematológicos no impaludismo (malária). Em paralelo, no laboratório do professor Fajardo, na Santa Casa da Misericórdia, Chagas ajudava na realização de exames hematológicos e na identificação das diferentes espécies do parasito da malária.

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Estação Ferroviária Central do Brasil em Lassance (MG). Casa de Oswaldo Cruz, 1908,dp

Recém-formado, foi trabalhar, em 1904, no Hospital de Isolamento, em Jurujuba, Niterói, como médico da Diretoria Geral de Saúde Pública, comandada por Oswaldo Cruz. Em 1905, foi convocado para liderar o combate a uma epidemia de malária que assolava os trabalhadores que construíam uma hidrelétrica na cidade paulista de Itatinga, que forneceria energia ao Porto de Santos . Segundo Simone Petraglia Kropf, “esta foi a primeira campanha anti-palúdica realizada no Brasil“.

Em 1907, foi incumbido da mesma empreitada: debelar a malária entre os trabalhadores de uma usina de captação de água para o Rio de Janeiro, localizada em Xerém. Em meados daquele mesmo ano, Chagas partiu para Lassance, no norte de Minas Gerais, onde uma epidemia da doença impedia a continuidade das obras de prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil.

Do interior de Minas para o mundo

Em 22 de abril de 1909, em sessão na Academia Brasileira de Medicina, Oswaldo Cruz comunicou que o infectologista e epidemiologista Carlos Chagas, que ainda se encontrava em Lassance, havia descoberto uma nova doença: a tripanosomíase americana. Mas não apenas isso. Também havia descrito a epidemia, as manifestações clínicas, o parasito transmissor (o Trypanosoma cruzi), seu ciclo evolutivo, seu hospedeiro (o inseto conhecido como barbeiro) e seus hábitos.

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Ao centro, Carlos Chagas e Albert Einstein no Instituto Oswaldo Cruz. Foto: J. Pinto, 1925, detalhe. Brasiliana/BN, dp

A descoberta teve impacto nacional e internacional. Ninguém havia feito uma descrição tão completa de uma doença infecciosa, segundo Simone Kropf. Chagas tornou-se membro extraordinário da Academia Brasileira de Medicina, foi indicado ao Nobel em 1911 e, em 1912, recebeu o Prêmio Schaudinn, conferido pelo Instituto de Doenças Tropicais de Hamburgo, na Alemanha, que, de quatro em quatro anos premiava o autor do melhor trabalho sobre protozoologia. Chagas também recebeu o título de doutor honoris causa de diversas universidades da Europa e das Américas.

Tamanha consagração possibilitou o prosseguimento de suas pesquisas, em Manguinhos, e, com a morte de Oswaldo Cruz, em 1917, foi nomeado pelo presidente Venceslau Brás diretor geral do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), cargo que ocupou até a sua morte em 1934. Vale lembrar que o IOC, nome o qual o Instituto Sorológico de Mnguinhos passou a ser designado a partir de 1908, era o mais respeitado centro de produção de soros imunobiológicos e de pesquisa e ensino de medicina experimental do país.

Herói da gripe espanhola

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Caminhão carregado de mortos saindo de necrotério do Rio. Revista Careta 540, outubro de 1918, dp

Desde o mês de maio de 1918, a Europa era assolada por uma epidemia desconhecda. Só cerca de dois meses depois é que pesquisadores ingleses descobriram que se tratava de um tipo de gripe desconhecida, que não sabiam como tratar e curar. Como o continente ainda estava mergulhado na I Guerra Mundial, vários países adotaram a censura às notícias sobre a epidemia, pois ela afetava a capacidade bélica dos exércitos, já que vinha matando milhares de soldados nas trincheiras. O resultado foi o alastramento da doença por todo o mundo. Em oito meses, a pandemia já havia matado entre 50 e 100 milhões de pessoas ao redor do planeta.

No Rio de Janeiro, as notícias sobre a pandemia eram ignoradas ou tratadas com descaso e em tom pilhérico. Em artigo publicado no Portal Scielo, a historiadora Adriana da Costa Goulart conta que imperava “a visão de que se fazia muito alarde por causa de uma doença corriqueira – uma simples limpa-velhos”. Mas não demorou muito tempo para a gripe espanhola se transformar no maior desafio da sociedade carioca. Em poucos meses, matou cerca de 15 mil pessoas e levou para o leito seiscentas mil pessoas – cerca de 66% da população local – , conforme indica boletim da Prefeitura de 1918.

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Diante do caos, a imprensa pressionava pela demissão do gestor de saúde pública. Edição de 18 de outubro de 1918, dp

É de se imaginar o caos que se instaurou na cidade, já que o poder público não havia montado qualquer estratégia para socorrer a população. Pouco a pouco, as ruas da cidade foram transformadas em um oceano de cadáveres inchados e apodrecidos. Não havia nem caixões nem coveiros suficientes para enterrar os corpos. Não demorou muito para a pandemia virar um problema político. Segundo Adriana Goulart, a população e a imprensa da capital federal passaram a exigir que o epidemiologista de maior prestígio no Brasil, Carlos Chagas, fosse colocado à frente dos serviços de combate à gripe espanhola. Após troca-troca, sem sucesso, no comando da Diretoria de Saúde Pública, o então presidente Wenceslau Braz acabou acatando a demanda, no fim de 1918.

No comando do combate à pandemia, Chagas organizou vários hospitais de campanha e postos de atendimento emergenciais. A doença arrefeceu e ele acabou aclamado como o herói da gripe espanhola. O sucesso de sua atuação pesou decisivamente na escolha de seu nome para dirigir a reforma dos serviços de saúde pública do país, a partir de 1919, tendo sido nomeado chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), acumulando o cargo com a direção do Instituto Oswaldo Cruz.

Organização do sistema de saúde

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Carlos Chagas dando aula na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1930. Casa de Oswaldo Cruz, dp

À frente do DNSP, onde ficou até o fim de 1926, Chagas organizou cursos de formação  de profissionais especializados na área de saúde pública, a fim de criar quadros para trabalhar nos novos serviços oferecidos à população, como o de higiene infantil, de combate às endemias rurais, à tuberculose, à hanseníase, às doenças venéreas etc... Também, fundou a Escola de Enfermagem Anna Nery, a primeira do Brasil, e o Hospital São Francisco de Assis, que passou a ser modelo para a modernização hospitalar no país.

Em 1925, foi nomeado professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde criou a cadeira de Medicina Tropical, tendo estabelecido as bases do estudo desta área em nosso país. Em 1934, aos 55 anos, faleceu subitamente de infarto, deixando viúva Íris Lobo Chagas, com quem se casou em 1904 e teve dois filhos, Evandro e Carlos, que também se tornaram médicos proeminestes e de grande renome, dando continuidade aos trabalhos e pesquisas do pai.

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