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Copacabana: de bucólico areal a um dos réveillons mais badalados do planeta
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Publicado em 09/12/2014
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Copa-anos1920Com uma população em torno de 146 mil habitantes, segundo o censo de 2010, o mais populoso bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro é, há quase um século, um dos principais cartões-postais do Brasil. Trata-se de Copacabana, que viveu seu período áureo entre os anos 1920 e 1960, quando encarnou o projeto de brasilidade, elegância e modernidade da elite carioca. Hoje, com alguns prédios quase centenários e um terço de moradores idosos, a Princesinha do Mar – assim imortalizada na voz de Dick Farney – continua atraindo milhares de cariocas e turistas, que para lá se deslocam, diariamente, em busca de lazer, praia, vida noturna, trabalho e outros atrativos e facilidades oferecidos por seu forte setor comercial e de serviços.

A população flutuante do bairro pode chegar a 100 mil pessoas em um domingo ensolarado, ou a 2 milhões no Réveillon, cujas comemorações à beira-mar chamam a atenção de sites e jornais de todo o mundo. Essa vocação para atrair os olhares nacionais e internacionais começou com a construção do Hotel Copacabana Palace, inaugurado em 1923, quando o bairro ainda tinha vestígios de um areal. É verdade que, nessa época, já existiam por lá várias casas suntuosas. Com o adensamento do centro da cidade e os preceitos higienistas e civilizatórios do início da República, os ares praianos viraram sinônimo de saúde, de forma que os setores mais favorecidos começaram a rumar para a Zona Sul.

Copa-túnelnovoO movimento em direção a Copacabana se iniciou, mais precisamente, em 1892, com a abertura do Túnel Velho (Alaor Prata), interligando o local a Botafogo, bairro da elite carioca de então. No mesmo ano, também chegou até lá uma linha de bonde da Companhia Ferro-Carril Jardim Botânico. O primeiro acesso terrestre à região se deu, contudo, pelo Caminho dos Pretos Quebra-Bolos, conhecido como Ladeira do Leme. Também chamado de Estrada Geral, foi aberto em 1722, depois da segunda invasão francesa, para abrigar, no topo do morro, uma fortaleza cujos arcos existem até hoje. Justamente cruzando esse percurso, dom Pedro II conheceu a “longínqua” praia oceânica.

 

Anos dourados

Nas duas primeiras décadas do século XX, Copacabana era um lugar bucólico, onde pequenos grupos, elegantemente vestidos, passeavam à beira-mar para desfrutar a brisa e a paisagem. Naquela época, a valorização da cultura praiana era uma tendência internacional, de forma que, nos fins da década de 1910, luxuosos palacetes podiam ser vistos na Avenida Atlântica e em outras ruas internas do bairro. Foi nesse contexto que o então presidente da República, Epitácio Pessoa, por ocasião das comemorações do Centenário da Independência, solicitou a Otávio Guinle a construção de um suntuoso hotel aos moldes dos existentes na Riviera Francesa. Segundo a historiadora Julia O’Donnell, autora do livro A Invenção de Copacabana, a solicitação era uma proposta arriscada, mas que trazia em seu bojo um projeto de construção de uma identidade brasileira elegante e de exportação, aceito pelo empresário.

Copa-BrigitteBardotInaugurado em 1923, não demorou muito para que o Copacabana Palace virasse um dos símbolos da cidade e palco do requinte por onde passavam grandes personagens da realeza, dos esportes, da música, do cinema, da política e do business internacional. Em 1933, as dependências do hotel foram usadas, inclusive, como cenário de Flying down to Rio, um marco dos filmes musicais por ter sido a primeira vez em que Fred Astaire e Ginger Rogers – dupla de estrondoso sucesso de Hollywood – dançaram juntos. O Golden Room, tido como a primeira casa de espetáculos da América Latina, começou a abrigar, desde quando foi aberto, em 1932, shows de personalidades do porte de Josephine Baker, Ella Fitzgerald, Ray Charles, Marlene Dietrich e Nat King Cole.

Com uma imagem definitivamente ligada a elegância, luxo, brasilidade, cosmopolitismo, corpos bronzeados e modernidade praiana, Copacabana começou a crescer verticalmente a partir da década de 1930. No final dos anos 1950, sua população atingia quase 130 mil habitantes. As luxuosas casas do bairro deram lugar aos edifícios, com apartamentos cada vez menores, que abrigavam moradores oriundos dos mais diversos lugares da cidade. Também proliferaram butiques, cinemas, teatros, bares, restaurantes, novos hotéis e lojas de todo tipo, impregnando o bairro com uma atmosfera alegre e contemporânea.

COPA-DESFILEDEMODAO surto de crescimento chegou ao auge na década de 1970, quando a população local atingiu a cifra de cerca de 240 mil moradores. Em 1975, o Jornal do Brasil chegou a publicar uma matéria que se referia ao bairro como uma enorme “favela de luxo”, um sinal de que já não era mais um lugar privilegiado das elites, e sim da classe média e do lazer diurno e noturno de toda a metrópole.

Centro do entretenimento

A transformação da Zona Sul no grande polo de entretenimento do Rio tem tudo a ver com a história de Copacabana. Na década de 1940, o local já contava com cerca de dez salas de cinema e vários cafés e restaurantes, como o Maxim’s, que se tornavam, cada vez mais, pontos de referência dos encontros da sociedade e dos intelectuais. Nessa época, o Estado Novo havia fechado inúmeros cabarés e bares da Lapa e do Centro, o que contribuiu, de forma determinante, para que Copacabana se tornasse o novo pouso da boemia e dos artistas. Uma das consequências dessa política foi a proliferação de várias boates por lá.

Uma das mais emblemáticas casas noturnas desse tempo foi a boate Vogue, localizada no hotel de mesmo nome, na esquina das avenidas Princesa Isabel e Atlântica. Foi nela que Tom Jobim conseguiu seu primeiro emprego na noite carioca, pouco depois de ter se casado e ido morar em um pequeno apartamento no Bairro Peixoto. Grandes artistas famosos também se apresentavam nessa boate, a exemplo de Dick Farney, Dolores Duran e Elizeth Cardoso, tidos como precursores do gênero musical que despontava: a bossa nova.

Tão rotineiramente associada a Ipanema, a bossa nova guarda relações estreitíssimas com Copacabana: era tocada no bairro, antes até de João Gilberto lançar, em 1958, o disco compacto tido como marco oficial do surgimento do ritmo; grandes nomes associados à bossa nova – como Carlos Lyra, Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli – costumavam se reunir para cantar e tocar no apartamento de Nara Leão, no edifício Palácio Champs-Élysées, em Copa; e, também lá, havia o local conhecido como {{Beco das Garrafas} A explicação mais aceita para a origem desse nome é a de que alguns moradores atiravam garrafas nos boêmios barulhentos, frequentadores dos bares da pequena travessa}. O nome foi dado a uma ruela sem saída transversal à Rua Duvivier. Entrou para a história da música brasileira como “o berço da bossa nova”, por atrair inúmeros artistas que revolucionaram o panorama musical do país nos anos 1960, como Elis Regina, Jorge Benjor, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, Johnny Alf, Sérgio Ricardo e outros.

COPA-SHOWOPINIÃOAliás, Copacabana foi, durante toda a década de 1960, um grande centro irradiador de manifestações culturais. Poucos meses após o Golpe Militar, estreou, no Teatro Opinião, na Rua Siqueira Campos, o musical Show Opinião, escrito por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes, dirigido por Augusto Boal e protagonizado por Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia). O espetáculo – que intercalava canções com falas opinativas sobre questões sociais e políticas – é apontado, por vários estudos, como a primeira reação artística à ditadura.

Também foi no Teatro Villa-Lobos, na Avenida Princesa Isabel, que foi encenada, em 1968, outra peça que fez história: Roda Viva, escrita por Chico Buarque, dirigida por José Celso Martinez e protagonizada por Marieta Severo e Antônio Pedro. Roda Viva rompia os limites entre palco e plateia e incitava o espectador a reagir diante de um fígado cru que espirrava sangue. Quando o espetáculo foi exibido em São Paulo, o {{Comando de Caça aos Comunistas} O CCC era um grupo armado de extrema-direita que atuava em várias cidades do Brasil. Seus principais alvos eram as manifestações artísticas, culturais e religiosas com orientação de esquerda} agrediu os atores e depredou o cenário. Em Porto Alegre, acabou censurado – por ser “subversivo e moralmente degradante”.

Na antiga TV Rio, localizada no Posto 6 (no mesmo prédio onde o Cassino Atlântico funcionou entre 1934 e 1946), outra forma de transgressão não feria nem o governo militar nem o status quo. Tratava-se do programa Jovem Guarda, comandado por Roberto Carlos, que atraía multidões para a porta da emissora e conquistou uma audiência de quase 90% na época.

Nos tempos de Socopenapan

Copa-século19Quando Estácio de Sá chegou ao Rio de Janeiro, em 1565, os índios chamavam de Socopenapan o areal onde hoje fica Copacabana, por ser ali uma área em que os pássaros socós gostavam de pousar. No século seguinte, mercadores peruanos trouxeram uma cópia da imagem da Virgem Maria – que era adorada pelos habitantes da península de Copakawana (localizada no Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia) – e a fixaram no platô de pedras localizado no final da praia. Tempos depois, foi construída, no local, a Capela de Nossa Senhora de Copacabana, nome que acabou batizando a fazenda que se estendia do Leme ao final do Leblon.

Na segunda metade do século XIX, a Fazenda Copacabana começou a ser fracionada e vendida em grandes lotes. Um dos pioneiros da região foi o médico Figueiredo Magalhães, que comprou uma enorme área na região da atual Praça Serzedelo Correia. Em 1872, ele abriu uma clínica próxima à praia e organizou uma linha de diligências para que seus pacientes pudessem chegar até lá. No ano seguinte, o empresário Copa-CapelaAlexandre Wagner adquiriu as terras do Leme e, pouco depois, o barão de Ipanema arrematou a região que fica entre a rua que, hoje, leva seu nome e o Jardim de Alah.

Projetos de loteamentos menores foram feitos pelos novos proprietários, de forma que, quando o Túnel Alaor Prata foi aberto e as linhas de bonde começaram a chegar, as terras da antiga fazenda estavam preparadas para ceder lugar a novos bairros. Já a capela que deu nome a Copacabana foi demolida para a construção do forte, inaugurado em 1914 e que, anos depois, foi palco da Revolta dos 18 do Forte, o primeiro levante do {{Movimento Tenentista} Formado por militares de média e baixa patente, surgiu no início dos anos 1920 e reivindicava a moralização do Poder Legislativo, maior liberdade de imprensa e reformas no ensino público e no sistema eleitoral. A Revolta dos 18 do Forte Copacabana, ocorrida em junho de 1922, foi o primeiro levante desse movimento, que visava à queda da República Velha}.

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