O Centro concentra intensa vida cultural, financeira e decisória – 29 museus e similares, igrejas, o Theatro Municipal, a Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Fórum, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e a Câmara Municipal. É o local onde edifícios novos convivem com construções coloniais. E também de onde se pode apreciar a bela vista da Baía da Guanabara, do alto dos prédios. Há, ainda, a efervescência do comércio popular do Saara e os jardins públicos, como o Campo de Santana e o Passeio.
Não por acaso, foi no Centro onde a cidade começou, cresceu como colônia, tornou-se sede do império português e, depois, da república, e sofreu grandes transformações físicas – três morros foram desmontados, seja para aterrar as áreas alagadiças no entorno, seja em uma tentativa de deixar o passado colonial para trás, com suas ruelas, e ganhar ares modernos, de avenidas largas. A mudança tem sido uma característica perene da região central do Rio de Janeiro.
Comecemos do início: em 1567, depois que os portugueses conseguiram expulsar os franceses e vencer a guerra contra os tamoios, passaram a ocupar o alto de um morro, de onde se podia avistar, estrategicamente, a entrada da Baía da Guanabara. O governador-geral Mem de Sá e seus homens ergueram uma fortificação que deu nome ao local – Morro do Castelo.
Além da questão da segurança, o lugar foi escolhido por ser uma parte seca de terreno em meio a uma planície encharcada. Ainda na segunda metade do século XVI, ergueram-se as edificações dedicadas à administração – Casa da Câmara e Cadeia –, e também a Casa do Tesouro, o Colégio dos Jesuítas e a Igreja de São Sebastião, padroeiro da cidade.
A expansão da urbe se deu por meio de aterros sucessivos, pois a planície era composta de brejos e lagoas. Na segunda metade do século XVII, a Câmara e a Cadeia foram transferidas para o Largo do Paço. Uma rede de pequenas ruelas conectava as igrejas, ligando-as ao Paço e ao Mercado do Peixe (à beira do cais). Os limites da cidade eram marcados pelos morros do Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição, até meados do século XIX.
Aqueduto facilitou a vida dos cariocas
Para buscar água potável, escravos carregavam tonéis de madeira desde a Fonte das Caboclas, no Silvestre. A partir da segunda década do século XVIII, o governador Ayres Saldanha resolveu o problema de abastecimento de água, construindo o aqueduto (atualmente Arcos da Lapa), que captava água na nascente do Rio Carioca, nas Paineiras, e a distribuía para a população por um chafariz com grande quantidade de bicas, localizado no Campo de Santo Antônio, atual Largo da Carioca.
No início do século XIX, o meio urbano central do Rio de Janeiro se consolidou: pavimentaram-se as ruas e havia iluminação pública a óleo de baleia. Hospitais, quartéis e comércio concentravam-se nas ruas próximas ao Largo do Paço. O transporte de mercadorias e passageiros era feito em faluas (espécie de bote grande movido a remos ou vela) e barcas e havia disponibilidade de transporte de aluguel por meio de carroças e diligências.
Com a chegada da família real portuguesa, em 1808, teve início uma profunda remodelação da cidade, que passou a ser a sede do império português. A vinda da Missão Artística Francesa, sob patrocínio real, em 1816, transformou a paisagem colonial com a suntuosidade da arquitetura neoclássica, deixando marcos como o prédio onde atualmente funciona a Casa França-Brasil, a Igreja da Candelária e prédios da Rua do Ouvidor.
Em 1852, foi firmado o contrato Russell para a instalação de um serviço de esgotos. Dois anos depois, o Barão de Mauá implementou o sistema de iluminação pública a gás encanado, possibilitando o lazer noturno em bares e restaurantes. Em 1868, inaugurou-se a primeira linha de bondes, inicialmente a tração animal e, depois, movidos a eletricidade. Em 1874, tiveram início as comunicações telegráficas com a Europa e, em 1881, as três primeiras linhas telefônicas foram instaladas. A cidade tinha 551.559 habitantes.
Desmonte dos morros do Senado, Castelo e Santo Antônio
Em 1880, começou o “arrasamento” do Morro do Senado, que se estendeu até 1906 e deu lugar à Praça da Cruz Vermelha e ruas adjacentes. O morro era praticamente desabitado e o objetivo da obra foi auferir lucros com a venda dos terrenos que seriam criados na futura Esplanada do Senado e áreas a serem aterradas.
Na primeira década do século XX, o prefeito Francisco Pereira Passos transformou radicalmente o Centro. A Zona Portuária foi ampliada; criaram-se as avenidas Rodrigues Alves, Central (atual Rio Branco) e Beira-Mar. São construídos o Theatro Municipal e a Biblioteca Nacional.
Nos anos 1920, houve o desmonte do Morro do Castelo, local onde a cidade começou. Sob pretextos sanitaristas de melhorar a salubridade do ar com a circulação dos ventos marítimos e impedir a disseminação de doenças, queria-se, na verdade, remover as casas populares, que dividiam o espaço com prédios e monumentos coloniais.
Na década de 1940, para a construção da Avenida Presidente Vargas, quarteirões inteiros foram destruídos, incluindo a Praça Onze, onde nasceu o samba carioca; e bairros antigos, como Cidade Nova e Estácio, foram remodelados.
O Morro de Santo Antônio, acidente geográfico que delimitava a cidade até fins do século XIX, foi desmontado durante a década de 1950, como parte da implementação do Plano Agache, que pretendia ser um plano diretor de organização do crescimento da cidade. Agache poupou o convento e os Arcos da Lapa, por serem monumentos históricos.
Transporte automotivo torna-se prioridade
Ainda nos anos 1950, a engenharia privilegiou viadutos e pistas expressas elevadas, voltadas para o atendimento do transporte por automóvel. Houve a criação do Aterro do Flamengo, feito pelo governador Carlos Lacerda, possibilitando a união, por vias expressas, do Centro à Zona Sul. O material utilizado para o aterro, ao longo da primeira metade do século XX, veio do desmonte dos morros do Castelo e Santo Antônio.
Em 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, a região perdeu parte de sua expressão econômica e teve várias de suas áreas progressivamente degradadas.
Atualmente o Centro passa, de novo, por grandes mudanças promovidas pelo poder público: a demolição do Elevado da Perimetral (4,8 km), a criação da Via Binário (que liga a Rodoviária à Avenida Rio Branco), do Túnel Rio450 (que liga o Centro ao Viaduto do Gasômetro, na Zona Portuária) e a criação do Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR –, dedicado à arte contemporânea.
Há obras de vulto em andamento, como o Museu do Amanhã (dedicado às ciências), o Passeio Público (desde o Armazém 8 do Cais do Porto até a Praça Quinze, com a abertura de uma grande praça em frente à Candelária e ao Centro Cultural Banco do Brasil) e o Veículo Leve sobre Trilhos – VLT – (que ligará o porto ao centro financeiro da cidade e ao Aeroporto Santos Dumont, passando pelas imediações da Rodoviária Novo Rio, Praça Mauá, Avenida Rio Branco, Cinelândia, Central, Praça Quinze e Santo Cristo).
Fontes:
Portal Geo, Portal da Prefeitura do Rio de Janeiro, Portal do Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional Digital, site Porto Maravilha, site Museus do Rio.