“Vontade de beleza” é um conceito pelo qual Burle Marx identificava uma mesma característica comum a duas fontes bastante diferentes. Uma que está nas plantas e outra, nas obras de arte, sejam elas eruditas ou populares. Passados 20 anos da morte do mais célebre paisagista brasileiro, quem desejar compartilhar da “vontade de beleza” sob a ótica do mestre pode agendar uma visita ao Sítio Roberto Burle Marx, onde estão reunidas uma infinidade de espécies vegetais e uma coleção de arte com cerca de 3 mil itens, entre imagens sacras, cerâmicas, painéis em azulejos, tapeçarias e vitrais. Doado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional pelo próprio Burle Marx, em 1985, o sítio foi tombado integralmente pelo Iphan no ano de 2000.
Só no Sítio Santo Antônio da Bica – atualmente batizado em homenagem ao paisagista, pintor, desenhista, designer e escultor – é que esse artista multifacetado encontrou o lugar perfeito para abrigar seu acervo de colecionador. Em 1949, a propriedade foi comprada por Roberto e seu irmão Siegfried. O conjunto arquitetônico, que inclui uma antiga sede de fazenda e uma capela, passou, então, por uma restauração completa. O nome original se devia ao fato de que a fonte d’água ali localizada abastecia toda a população da área.
A Capela de Santo Antônio da Bica tem muita história. Erguida em 1690 por ordem do capitão-mor Belchior da Fonseca Dórea, foi alvo da ação de corsários franceses, que invadiram o Rio por Barra de Guaratiba no dia 11 de setembro de 1710. Assim como a fazenda, o templo foi saqueado sob o comando de Jean François Duclerc. Apesar de terem chegado até o centro da cidade, os estrangeiros perderam a batalha.
Todos os anos, no dia 13 de junho, a comunidade de Barra de Guaratiba realiza uma procissão em homenagem a Santo Antônio. Do ponto de partida, que fica no portão de entrada do Sítio Roberto Burle Marx, ela segue até a capela, onde uma missa é celebrada, e crianças do bairro fazem a coroação do padroeiro. Ao longo do ano, a capela fica aberta para a celebração da missa aos domingos.
Ensino, pesquisa, preservação e lazer no mesmo endereço
Entre 1973 e 1994, período em que viveu no sítio de 365 mil metros quadrados, Burle Marx reuniu exemplares de 3.500 espécies de plantas tropicais e semitropicais do mundo inteiro, algumas em processo de extinção. No local, se encontra uma biblioteca especializada em paisagismo, botânica, arquitetura, história da arte e museologia, e um arquivo com documentos e fotografias pessoais e sobre a instituição.
Existe, também, um laboratório de pesquisa, um auditório, salas de aula para cursos, espaço para exposições temporárias e área para ações de cunho educativo-cultural. Na instituição, as atividades de campo, como a produção de mudas e de exsicatas (exemplares prensados e secos para amostragem de catalogação), são executadas por estudantes universitários sob a supervisão de professores.
O serviço de visitas guiadas à unidade, com ingresso individual a R$ 10, e que tem programa especial para estudantes, pode ser agendado pelo telefone (21) 2410-1412. Funciona de terça-feira a domingo, com meia-entrada para quem tem mais de 60 anos e entrada franca para crianças de até 5 anos, acompanhadas pelos pais. O percurso de quase 2 km, em aclive, é feito a pé, às 9h30 ou às 13h30, em grupos de, no máximo, 35 pessoas, e dura cerca de 90 minutos.
No Sítio Roberto Burle Marx se encontram exemplares das 46 espécies botânicas que levam a nomenclatura burle marxii. Desse total, 20 foram pesquisadas diretamente pelo paisagista, enquanto as demais receberam a referência em homenagem a ele. A mais famosa delas é a Heliconia burle marxii. Originária do Brasil, a helicônia é popularmente conhecida como bananeira-do-brejo. Em condições ideais, atinge até 3m de altura e floresce o ano inteiro.