A prática Maternal II no “Participa Criança Carioca” é inspirada nos documentos oficiais da Educação Infantil, no guia “Educação para as Relações Étnico-raciais no Mapeamento Afetivo, no Plano de Desenvolvimento Sustentável e ação climática. Essa prática é fruto do diálogo do Projeto Político Pedagógico e do Projeto Pedagógico Anual da CM Eduardo Moreira dos Santos. Ela é desenvolvida a partir das percepções e desejos das crianças a respeito de sua cidade e também nos valores civilizatórios afro-brasileiros (Trindade, 2018, p. 30-31) presentes no território da Mangueira. Iniciamos no dia “D” (31/03/2023) vivências com as crianças e com as famílias. Na roda de conversa, investigamos as percepções das crianças sobre o caminho percorrido de sua casa até a escola e, juntos, construímos um gráfico. Via WhatsApp, aos pais, solicitamos que fizessem um registro fotográfico/vídeo do percurso da criança, de casa até a escola. Mostramos os vídeos para as crianças. Elas narraram sobre seu caminho com muito entusiasmo. Após ouvi-las, perguntamos o que desejavam para sua cidade. Em seguida, desenharam a cidade que almejavam, expressando seus saberes culturais de forma criativa. Ressaltamos a importância do nosso território e como podemos preservá-los, enaltecendo “um conjunto de aspectos e características existenciais, espirituais, intelectuais e materiais, objetivas e subjetivas, que se constituíram e se constituem num processo histórico, social e cultural” (Trindade, 2013). Pesquisamos sobre o bairro da Mangueira (museus, estádios, rio). Como não havia rio, as crianças decidiram construir um rio bem limpo e com peixe (cada peixe tinha o nome de uma criança para ser reconhecido e pescado). Também simulamos como o Homem polui o rio e como nós podemos despoluí-lo. Recolhemos todos os lixos que foram jogados no rio. Com técnica de dobradura, as crianças construíram a própria casa, colaram-na em uma folha de papel 40kg, transformando-a no Morro da Mangueira. Finalizaram a arte com pintura verde e rosa. Contamos a história do Morro da Mangueira, do samba. Nossa creche convidou Mestre-sala e porta-bandeira mirins da Mangueira, para se apresentarem e sambar junto às crianças. Assim, dialogamos com os valores civilizatórios afro-brasileiros, com a pluralidade cultural da criança, da sua família e de seu território, promovendo a consciência da própria identidade; construindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, por meio das interações e das brincadeiras, vivenciando experiências étnico - raciais.

As práticas do Maternal II evidenciaram a criança como “Art 4º (...)sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009). Baseada nessas práticas, as crianças adquiriram consciência de sua identidade, enquanto moradoras da cidade do Rio de Janeiro, no Morro da Mangueira, enquanto produtoras de cultura. Aprendem a valorizar as riquezas de seu território, que constituem sua identidade. Exaltam seus valores civilizatórios afro-brasileiros, contam as histórias da Mangueira em tom de pertencimento. Narram tudo que veem pelos caminhos do Morro com alegria de quem se reconhece em seu território. Sonham em ter um rio limpo em sua comunidade, tornando-o concreto a partir de produção artística e de "faz-de-conta".