Inicialmente, trabalhamos com um levantamento biográfico de algumas alunas negras, que se declaram como tal, escolhidas pelas suas respectivas turmas, com foco em casos de preconceito sofridos por elas ou pessoas próximas; construção de saberes coletivos em relação às diversas formas de racismo e os motivos que as afastaram da sala de aula, além dos porquês de seus respectivos retornos. Desse levantamento, foi produzido um material impresso, em forma de folder, e um banner, onde apresentamos os sujeitos envolvidos (no caso, as alunas entrevistadas) e citações pertinentes aos pontos citados acima. Os objetos criados foram expostos no encontro proposto pela Secretaria Municipal de Educação e trabalhados na continuidade do projeto, ao longo do ano letivo de 2023. Tivemos como ideia central a EJA sendo uma “mulher negra”, já que seu alunado, em sua maioria, é formado por alunas negras (RIO DE JANEIRO, 2023, p.12). Assim, abordamos as diferenças presentes em torno da construção das identidades pertencentes à realidade da EJA, partindo do pressuposto de que “nenhum ato de significação é possível fora de um sistema de diferenças” (GABRIEL, 2013, p. 292), ressignificando sujeitos no processo de construção de saberes. Construção essa que se dá de forma coletiva, envolvendo todas as alunas e todos os alunos no processo de produção. Participaram da escolha, da formulação das questões e até debateram sobre as opiniões das envolvidas, trazendo as diferenças que os caracterizam. E, assim, diferenças dialogaram entre si, criando demandas únicas dentro da construção das identidades envolvidas e indo além da transposição simples de conteúdos científicos em conteúdos escolares, dando voz a saberes e afetos presentes nos elementos formadores da comunidade escolar. Dentro dessa atividade, surgiram questões envolvendo preconceito, aceitação e representatividade. Uma aluna, por exemplo, se recusou a participar por não se reconhecer como pertencente ao grupo, pois não se declarou como negra e ainda reproduzia rótulos e estereótipos pejorativos ao se referir ao trabalho. Em contrapartida, algumas alunas aproveitaram para narrar experiências que vivenciaram, em relação a práticas e vivências ligadas ao fato de serem negras. Racismo em locais de trabalho, no ambiente familiar e até na escola onde estudou na infância.
As turmas começaram a trabalhar melhor com o conceito de narrativas e memórias, trazendo para as aulas riquíssimas contribuições. Conseguiram entender que, nas entrevistas elaboradas por eles e mediadas/lapidadas por mim, havia a aula em essência, em matéria bruta. Que, na sociedade e na aula, são coautores do que vivenciam e compartilham. Ressignificou, para muitas dessas mulheres negras, pontos como racismo, pertencimento e empoderamento. Além disso, emplacamos uma "Oficina de Memória", onde alunas e alunos conseguem produzir reflexões e relatos de acordo com estímulos direcionados pelos conteúdos sugeridos nas orientações curriculares.
Referências Bibliográficas
GABRIEL, C. T. O "outro" como elemento incontornável na produção do conhecimento histórico. In: Ensino de história e culturas afro-brasileiras e indígenas / Amilcar Araujo Pereira, Ana Maria Monteiro (org.). - Rio de Janeiro : Pallas, 2013.
RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Orientações Pedagógica s EJA Rio n.3 - XVII Encontro de Alunos e Alunas da EJA Rio – Identidade e Representatividade: Potências Indígenas e Negras na EJA. 1. Ed. Rio de Janeiro: Gerência de Educação de Jovens e Adultos, 2023.