Em um dia do ano de 1992, César Athayde, produtor cultural que frequentava o Vera Cruz – baile charme que o DJ Corello fazia na Abolição, às sextas-feiras –, propôs a amigos camelôs promover o próprio baile no bairro onde moravam: Madureira. A proposta agradou aos amigos, já que talvez conseguissem chegar mais cedo em casa, para não acordar tão tarde. Assim, poderiam pegar um ponto melhor na rua, aos sábados. Mas onde fazer? O objetivo era fazer a festa num lugar onde ninguém reclamaria nem precisaria pagar para entrar.
Na busca por um espaço, César conseguiu, primeiramente, autorização para realizar o Baile Charme na Rua em março de 1993, na Praça das Mães. Não passou muito tempo, se transferiu para debaixo do Viaduto Negrão de Lima, onde o bloco carnavalesco Pagodão de Madureira já realizava seus encontros. Com a onda de movimento hip-hop que se instalou no Rio de Janeiro, na década de 1990, o Baile Charme na Rua passou a contar com grande afluência de público jovem, vindo de todos os bairros da cidade, com sua proposta de ser, a exemplo da ideologia do hip-hop, um espaço de não violência, diferenciando-se, assim, dos bailes funk, que na época eram alvo de cenas de violência crescente.
Dois anos depois da realização do primeiro Baile Charme na Rua, o governo do estado do Rio de Janeiro reconheceu-o como instrumento fundamental à cultura do bairro, e o baile foi rebatizado de Projeto Charme na Rua. Em 2000, lei aprovada pela Câmara Municipal transforma a área do viaduto onde é realizado o baile em Espaço Cultural Rio Charme. Em 2003, o nome é novamente alterado para Espaço Cultural Rio Hip-Hop Charme. Sem mudar o nome, a Prefeitura do Rio regulamentou, neste ano, a utilização do espaço sob o viaduto – onde não pode mais haver carros estacionados – e ainda transformou o Baile Charme em “bem cultural de natureza imaterial”, dando ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade a responsabilidade de pesquisar e documentar as atividades relacionadas ao baile, que é reduto da música negra.