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Pensando a Educação
Entre a restrição e a permissão: o uso pedagógico dos celulares nas escolas
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Publicado por Grazielle Bragança em 09/04/2025

Nos últimos anos, o uso frequente e intenso de celulares por crianças e adolescentes tem gerado amplo debate na sociedade brasileira. Famílias, educadores e especialistas discutem seus impactos — positivos e negativos — com especial atenção à aprendizagem e à saúde mental.

Enquanto parte da comunidade médica e educacional alerta para os riscos do tempo excessivo de tela — como problemas de atenção, queda no rendimento escolar e dificuldades nas interações sociais —, outros profissionais defendem que, quando utilizados com intencionalidade pedagógica, os celulares podem enriquecer o processo de aprendizagem, ampliar o acesso à informação e estimular a criatividade. Em uma era em que as competências digitais são essenciais, não se pode ignorar o papel formativo que esses dispositivos podem assumir.

A pressão por soluções levou o tema à agenda pública. Em 2024, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro publicou o Decreto nº 53.918/2024, regulamentando o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos por estudantes nas escolas da rede municipal. No âmbito federal, o governo brasileiro sancionou a Lei nº 15.100, em 13 de janeiro de 2025, normatizando o uso de aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e privadas da educação básica, proibindo sua utilização durante aulas, recreios e intervalos.

Essas medidas, defendidas por legisladores com base em posicionamentos de especialistas e entidades de classe, têm como objetivo principal promover um ambiente escolar mais saudável e produtivo, com menos distrações e, consequentemente, com a redução dos impactos negativos na aprendizagem e na saúde mental dos estudantes.

É nesse cenário que a Educação Midiática se apresenta como uma alternativa relevante. Ela compreende o celular não apenas como ferramenta, mas como uma das principais portas de entrada para a informação, a comunicação e a criação de conteúdo na cultura digital. Trata-se de educar para, com e sobre as mídias e tecnologias, desenvolvendo o pensamento crítico e promovendo o uso consciente, responsável e autorregulado dos meios digitais.

A integração orientada dos celulares às práticas pedagógicas permite ensinar os estudantes a avaliarem informações, compreender algoritmos, refletir sobre sua presença no mundo digital e atuar com ética nas redes. O desafio não é simplesmente “retirar o celular de cena”, mas preparar os alunos para utilizá-lo de forma crítica e criativa.

Embora o Rio de Janeiro ocupe posição de destaque no debate e na regulamentação do uso dos celulares, a mesma cidade promove e reconhece, em iniciativas educacionais, o potencial pedagógico desses dispositivos. O projeto Andar, coordenado pela MultiRio, é um exemplo concreto de como a incorporação pedagógica do celular pode fortalecer a autonomia estudantil, o pensamento crítico e a criatividade.

Por meio do jornalismo estudantil, estudantes do Ensino Fundamental produzem reportagens, narrativas digitais e outros conteúdos jornalísticos com o celular em mãos. Ao vivenciarem todas as etapas do processo de produção midiática — da pauta à publicação —, desenvolvem habilidades de comunicação, autoria e leitura crítica das mídias. Mais do que aprender sobre jornalismo, aprendem sobre o mundo e sobre si mesmos no mundo.

A Educação Midiática oferece caminhos viáveis para a inclusão dos celulares nas práticas escolares e pode compor políticas públicas que integrem tecnologias digitais e diferentes mídias de forma ética, crítica e pedagógica.

O debate, portanto, não deve se restringir à dicotomia entre proibir ou permitir o uso de celulares nas escolas, mas sim explorar estratégias que promovam a utilização consciente desses dispositivos no cotidiano escolar, integrando as mídias digitais à educação e possibilitando a discussão dos desafios éticos que permeiam o ambiente digital.

Os celulares já estão nas mãos dos estudantes. Cabe a nós optarmos se eles serão apenas fonte de distração — ou também ferramentas de transformação.

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Grazielle Bragança é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Graduada em Pedagogia com Mestrado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com mais de 15 anos de experiência na área educacional, atualmente é Gerente de Pesquisa, Metodologia e Conteúdo, no Núcleo Pedagógico na Diretoria de Mídia e Educação da MultiRio.

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