Em geral, Heitor Oliveira dorme tarde e acorda às 6h para desempenhar as diversas atividades a que se dedica: dar aulas de Matemática nas escolas municipais Estácio de Sá e Minas Gerais, elaborar material pedagógico para a Secretaria Municipal de Educação, atuar como professor tutor na Fundação Getúlio Vargas on-line, gravar videoaulas para a MultiRio e encenar peças de teatro. Sim, além de professor, ele também é ator.
Heitor lembra que decidiu seguir o magistério muito jovem, quando cursava o 8º ano do Colégio Santo Agostinho, no Leblon. Apesar da resistência familiar, que temia pelo futuro financeiro do filho, ingressou na Licenciatura em Matemática, na UFRJ, com apenas 17 anos. Antes mesmo de formado, recebeu o convite para o primeiro emprego: na escola particular Mopi, na Tijuca, onde ficou por seis anos. Nesse período, passou no concurso para o Ensino Fundamental da prefeitura de Niterói.
Outra seleção exitosa foi para professor substituto do Instituto Benjamin Constant, para cegos, onde deu aulas por dois anos para a turma de 5º ano. Teve que se desdobrar para ensinar todos os conteúdos previstos para o professor único desse estágio do Ensino Fundamental – além de Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, História e Ciências.
Em 2012, tornou-se professor da Rede Municipal do Rio de Janeiro. Como ficou em 2º lugar no processo seletivo, pôde escolher a unidade para trabalhar – a E.M. Estácio de Sá, na Urca, Zona Sul. Sua matrícula é de 40 horas e, como a escola é pequena – cerca de 180 alunos –, Heitor complementa o horário na E.M. Minas Gerais, no mesmo bairro. Ambas as unidades pertencem à 2ª CRE. O professor diz que tem muito orgulho em colaborar para promover a educação na cidade onde nasceu e sempre morou.
Cadernos Pedagógicos
O trabalho com os cadernos pedagógicos da SME surgiu a partir da interação com sua CRE de origem. Articulado e interessado, Heitor representava a E.M. Manoel Cícero, na Gávea (na qual dava aulas para complementar a carga horária, nessa época), na Coordenadoria Regional de Ensino, quando foi indicado a representar a própria CRE em reuniões periódicas na Secretaria Municipal de Educação.
Na SME, formou o grupo de trabalho de Matemática que o indicou, em 2014, para elaborar os Cadernos Pedagógicos. “Os cadernos trazem orientações curriculares para cada matéria. São importantes como sugestão de roteiro para os professores da Rede, porque as provas das escolas municipais abordam os pontos neles levantados”. Esse ano, ele é responsável pela elaboração do material de Matemática para o 6º ano.
Com o objetivo de aumentar os proventos, Heitor procura outras fontes de renda. Ele é, por exemplo, professor tutor na FGV on-line. Nessa função, atua em fóruns de cursos livres – na graduação e pós-graduação –, como Estatística, Matemática Financeira e Gestão Orçamentária do Setor Público. Seu papel é motivar a leitura, cobrar prazos, corrigir trabalhos e fomentar a discussão.
Porção artística
Para relaxar e dar vazão a outra paixão – a arte –, ele se dedica ao teatro. Fez cursos na Casa da Gávea, no Teatro das Artes e já participou de quatro montagens. “Gosto de comédia, fazer rir, devo me profissionalizar nessa área, oficialmente, em breve”.
Ao conhecer a MultiRio, Heitor ficou imediatamente interessado em fazer algum trabalho em conjunto com a equipe da Empresa. Ele viu a possibilidade de unir as duas atividades de que mais gosta: arte e educação. Em 2015, participou da série Tempo de Estudar e, em 2016, também está no projeto Interações Pedagógicas. Nos dois trabalhos, apresenta sugestões para os professores incrementarem o ensino da Matemática, por meio de videoaulas.
Com todo o dinamismo de que é capaz, Heitor não pensa em deixar o cotidiano nas escolas municipais, pois acredita que mantém assim uma consistência da qual necessita: “Eu entraria em defasagem, minha palavra morreria”.
Ele acredita que a interação com o aluno é fundamental para o sucesso do ensino: “Problema de casa é problema do professor, porque afeta a capacidade do aluno de aprender. É importante saber se o estudante está bem, levar isso em consideração, ajudar no que for possível, demonstrar um pouco de empatia”.
Outro recurso que considera importante para a aprendizagem de Matemática no Ensino Fundamental é “desmontar parte da técnica em prol do raciocínio”. Ele gosta de propor o seguinte desafio para a turma: coloca uma questão no quadro e o estudante que for capaz de explicá-la verbalmente, passo a passo, ganha um ponto. Caso alguém mais na sala queira ir além, acrescentar algo que não havia sido dito, “tirará” esse ponto do primeiro, e, assim, sucessivamente. “Esse jogo estimula os adolescentes a raciocinar e expor as ideias em público”.
Aos 33 anos e há mais de uma década lecionando, Heitor reafirma a escolha da profissão – se tivesse que optar, novamente seria professor.