Início > Conteúdo Geral
Início > Conteúdo Geral
A saga do Palácio Monroe
Texto
Publicado em 21/01/2015
Tipo de Conteúdo
Conteúdo Geral
Tipo de mídia
Artigo


monroe400Muito antes de se pensar na criação do Corredor Cultural, que há 30 anos preserva o patrimônio urbanístico do centro histórico do Rio, houve um arquiteto que propôs o tombamento do conjunto arquitetônico remanescente da época de abertura da Avenida Rio Branco, que é o símbolo maior das reformas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906). Seu nome era Paulo Santos, e ele tinha, também, formação em História da Arte. Conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele redigiu um documento, em 1972, no qual indicava a necessidade de tombamento de edifícios importantes na região da Cinelândia: Biblioteca Nacional, Theatro Municipal, Câmara dos Vereadores e, também, o Palácio Monroe. A iniciativa deu margem à resposta do arquiteto Lucio Costa, mundialmente conhecido pela autoria do Plano Piloto de Brasília, que sugeria a derrubada específica do prédio, sob o argumento de desafogar o tráfego no fim da Avenida Rio branco, onde estava situado.

Logo a polêmica tomou conta dos jornais. De um lado O Globo apoiava a campanha pró-demolição, assim como o regime militar. De outro, ficaram o Jornal do Brasil, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Clube de Engenharia e os cariocas que já tinham se afeiçoado à bela obra, a ponto de tentarem impedir a arbitrariedade por meio de uma ação popular. Um manifesto contra a demolição do palácio teve a assinatura de 162 arquitetos, engenheiros e críticos de arte. O juiz Evandro Gueiros Leite sugeriu que o Palácio Monroe fosse destinado à instalação do Tribunal Federal de Recursos, que portraitestava sem sede. Relatos de época dão conta, também, de uma questão mal resolvida entre o Presidente Ernesto Geisel e um familiar do Marechal Francisco Marcelino de Souza Aguiar, responsável pelo projeto. Coincidência ou não, foi durante o mandato de Geisel (1974-1979) que o Palácio Monroe foi varrido da paisagem da cidade, entre janeiro e junho de 1976.

O engenheiro militar, autor de inúmeros projetos além do Palácio Monroe (Biblioteca Nacional, Quartel Central do Corpo de Bombeiros, e diversas escolas municipais, como a Deodoro, Alberto Barth, Barão de Macahubas, Affonso Penna e Menezes Vieira) ocupou a prefeitura do Rio como sucessor de Pereira Passos (1906-1909). Durante sua gestão, começou a saga do Palácio Monroe.

Origem nos Estados Unidos

Na verdade, o prédio foi construído, pela primeira vez, bem distante do Centro. A ocasião celebrava a compra do estado da Louisiana, que pertencia à França, pelos Estados Unidos, e o pavilhão deveria representar o Brasil na Exposição Internacional de Saint Louis, ou {{Exposição Universal de 1904}Também chamada de Feira Mundial, Exposição Mundial ou Internacional, ou simplesmente Expo, o evento foi criado em 1851, no Reino Unido. Sua única edição no Brasil, até hoje, aconteceu em 1922, no Rio de Janeiro. A próxima está prevista para ser realizada em São Paulo, em 2023.}. Elogiado pela imprensa estrangeira pela beleza de suas formas e aproveitamento inteligente do espaço interno, acabou condecorado com a medalha de ouro do Grande Prêmio Mundial de Arquitetura. Era a primeira vez que a arquitetura brasileira recebia reconhecimento internacional. Foi concebido de forma a poder ser desmontado, ao fim do evento, e remontado no Rio de Janeiro, em lugar de destaque, na então Avenida Central – nome original da Avenida Rio Branco, inaugurada em 1905.

A estreia do Palácio Monroe na história carioca começou em grande estilo: foi aberto no dia 23 de julho de 1906, para sediar a 3ª Conferência Pan-Americana, e deve a este evento o fato de ter sido rebatizado. Originalmente ia se chamar Palácio São Luiz, mas, por sugestão de Joaquim Nabuco, acatada pelo então ministro das Relações Exteriores Barão do Rio Branco, ganhou seu nome definitivo em homenagem ao presidente norte-americano James Monroe.

construcaoHistória viva do Brasil

Poucas edificações abrigaram entre suas paredes instituições de tamanha relevância. Embora tenha sido usado, inicialmente, apenas como centro de convenções, salão de festas oficiais e espaço de velórios de personalidades da época, logo estaria servindo para outros propósitos. Em 1911, o Palácio Monroe serviu de sede para o Ministério da Viação, atual Ministério dos Transportes. Três anos depois, a Câmara dos Deputados era transferida do prédio da Cadeia Velha para lá, onde funcionou até junho de 1922, quando ficou pronto o Palácio Tiradentes. A partir dali, passou a abrigar a Comissão Executiva da Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Entre 1925 e 1932, se tornou a casa do Senado Federal. Funcionou como sede provisória do Tribunal Superior Eleitoral, entre 1945 e 1946. Em 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, foi transformado em quartel-general do Estado-Maior das Forças Armadas.

Obra arquitetônica sem comparação

Crônica da Demolição é um documentário com roteiro e direção de Eduardo Ades, a ser lançado em 2015, que se propõe a encontrar não apenas os motivos que levaram à demolição do edifício histórico, mas, também, a localizar o destino das peças derivadas do desmonte do Palácio Monroe. Diversas partes da construção, além de elementos do revestimento interno, do mobiliário e vitrais, acabaram sendo vendidas como sucata, num lapso recorde de 120 dias, de forma que ficaram espalhados em diferentes localidades, do Brasil e exterior.

Uma vez que, desde o início, já se sabia que o palácio seria remontado no Rio de Janeiro, o projeto se desenvolveu a partir de uma estrutura de ferro, que depois foi recoberta pelas paredes. Depois da demolição, os quatro leões de mármore italiano que ficavam postados vistana entrada do prédio foram vendidos. Dois deles estão no Instituto Brennand, em Recife, e
outros dois na Fazenda São Geraldo, em Uberaba, Minas Gerais. Dos oito anjos que adornavam a cúpula do palácio, a produção do filme só conseguiu localizar dois. Por ser de madeira nobre, o piso em peroba do campo, que revestia 1.700 metros quadrados de área construída, foi vendido para um comerciante e exportado para o Japão.

Metrô, estacionamento e uma leve curva

Há quem atribua, erroneamente, às obras do metrô a demolição do prédio histórico. Muito pelo contrário: houve a preocupação de manter intacto o conjunto urbanístico na Cinelândia, inclusive o Theatro Municipal e a Câmara dos Vereadores. Em 1974, durante as obras para a construção do metrô carioca, o traçado do túnel chegou a ser refeito para garantir a preservação do Monroe, cujo tombamento tinha sido feito pelo governo estadual.

Enquanto os trabalhos eram realizados, as fundações do palácio eram checadas duas vezes ao dia. A escadaria de entrada tinha sido cuidadosamente desmontada por uma equipe de técnicos italianos especialmente contratados para a tarefa e guardada no interior do prédio, assim como os leões. O grau de sofisticação da empreitada ganhou as páginas de diversas revistas especializadas. Mas nem leões nem escada voltariam aos seus lugares originais.

interiorNo local onde existia o Palácio Monroe, a Praça Mahatma Gandhi passou a exibir uma estátua de bronze do pacifista indiano. Um chafariz, batizado de Monroe, com mais de 10 metros de altura, passou a fazer parte do cenário. Comprado pelo imperador Pedro II em Viena, em 1878, foi instalado primeiro no Largo do Paço, atual Praça XV, depois na Praça da Bandeira e, por fim, sobre a área da demolição. Em 2003, um estacionamento subterrâneo também foi inaugurado no espaço.

Publicada em um dos manifestos contrários à derrubada do prédio histórico, ficou, ainda, uma frase para a posteridade: “... restará aos usuários do metrô perceberem que, onde foi o Monroe, haverá uma misteriosa curva...” O desvio desnecessário do trajeto vai ficar para sempre como uma relíquia pública, embora invisível, da tentativa de salvação do palácio.

 Palácio Duque de Caxias, o mais histórico endereço do Exército Brasilei
Prédio é atual sede do Comando Militar do Leste.
Texto

Palácio Duque de Caxias, o mais histórico endereço do Exército Brasileiro

Prédio é atual sede do Comando Militar do Leste.

Arquitetura e UrbanismoRio de Janeiro
Palácio da Justiça guarda relação antiga com o teatro
Inaugurado em 1926 para abrigar os tribunais da mais elevada instância do Judiciário, prédio ficava em meio à região boêmia da cidade.
Texto

Palácio da Justiça guarda relação antiga com o teatro

Inaugurado em 1926 para abrigar os tribunais da mais elevada instância do Judiciário, prédio ficava em meio à região boêmia (...)

Arquitetura e UrbanismoTeatro
Palácio dos Arcos é ponto importante da memória brasileira
Moradia do último dos vice-reis e sede do Senado durante um século, prédio abriga Faculdade Nacional de Direito desde a década de 1940.
Texto

Palácio dos Arcos é ponto importante da memória brasileira

Moradia do último dos vice-reis e sede do Senado durante um século, prédio abriga Faculdade Nacional de Direito desde a década (...)

Arquitetura e UrbanismoRio de Janeiro
Palácio Gustavo Capanema é marco divisório na história da arquitetura do
Obras de restauração, iniciadas em 2015, ainda devem demorar.  
Texto

Palácio Gustavo Capanema é marco divisório na história da arquitetura do país

Obras de restauração, iniciadas em 2015, ainda devem demorar.

Arquitetura e Urbanismo
Palácio da Cidade tem a alma do Rio
A incrível história de como a antiga embaixada do Reino Unido se tornou a sede do poder municipal carioca.
Texto

Palácio da Cidade tem a alma do Rio

A incrível história de como a antiga embaixada do Reino Unido se tornou a sede do poder municipal carioca.

Arquitetura e Urbanismo
Palácio de São Clemente é lusitano e carioca
Tudo o que se relaciona ao prédio do Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro está carregado de muito afeto e grande esmero.
Texto

Palácio de São Clemente é lusitano e carioca

Tudo o que se relaciona ao prédio do Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro está carregado de muito afeto e grande esmero.

Arquitetura e Urbanismo
Palácio de Brocoió é joia esquecida na Baía de Guanabara
Localizado na ilha de mesmo nome, patrimônio é praticamente desconhecido pelos cariocas.
Texto

Palácio de Brocoió é joia esquecida na Baía de Guanabara

Localizado na ilha de mesmo nome, patrimônio é praticamente desconhecido pelos cariocas.

Arquitetura e Urbanismo
Palácio da Conceição guarda acervo histórico
Museu e Centro de Operações Cartográficas do Exército funcionam nas antigas instalações do primeiro palácio episcopal do Rio de Janeiro.
Texto

Palácio da Conceição guarda acervo histórico

Museu e Centro de Operações Cartográficas do Exército funcionam nas antigas instalações do primeiro palácio episcopal do (...)

Arquitetura e Urbanismo
Palácio do Catete é sede do Museu da República
Sede do Poder Executivo federal entre 1897 e 1960, construção foi local de suicídio do presidente Getúlio Vargas, na década de 1950.
Texto

Palácio do Catete é sede do Museu da República

Sede do Poder Executivo federal entre 1897 e 1960, construção foi local de suicídio do presidente Getúlio Vargas, na década (...)

Arquitetura e Urbanismo
Muitas memórias no Palácio Tiradentes
Primeiro prédio a ser construído para sediar uma casa legislativa no país, abrigou a Câmara dos Deputados antes de servir ao estado do Rio.
Texto

Muitas memórias no Palácio Tiradentes

Primeiro prédio a ser construído para sediar uma casa legislativa no país, abrigou a Câmara dos Deputados antes de servir ao (...)

Arquitetura e Urbanismo